
e mais de três décadas distante
daquele momento, consegue.
Mas tem feito muito mais do que
contar a respeito. Além desde livro
e mais um publicado em 2017, Juan
Pablo Escobar tem feito tudo que é
possível para diminuir o sofrimento
alheio causado por seu pai. Em uma
trajetória quase que reversa, como
que tentando voltar o tempo ao
momento em que seu pai ainda era
inocente, Juan Pablo tem viajado o
mundo a conversar com todos que
o queiram ouvir. Tem olhado nos
olhos das vítimas de seu pai
enquanto pede perdão por tudo
que ele mesmo nunca fez, mas
que considera sua obrigação desfazer. Tem
mantido uma vida correta de trabalho (é
arquiteto), dedicação à esposa (namorada
desde a adolescência) e ao filho, apoio à
mãe e à irmã, como que para demonstrar -
e demonstra - que o crime não compensa.
Como ele mesmo brinca, “não há chefes
de cartel aposentados”. Para sair daquela
vida, só há o caminho da morte.
Quando Escobar assassinou Rodrigo
Lara Bonilla, a relação entre o narcotráfico
e a sociedade colombiana já passara de
parasita para francamente predadora, onde
o crime organizado recorria à força e aos
atos terroristas no confronto direto com a
sociedade e com o Estado para atingir seus
objetivos. Em 1985, um ataque conjunto
de Escobar e a guerrilha do M-19 contra
o Palácio da Justiça causou um incêndio
e a morte pavorosa da metade dos juízes
da Suprema Corte da Colômbia. Em 1989,
em uma tentativa de assassinar Luís Carlos
Galán, candidato à Presidência e corajoso
opositor do narcotráfico, Escobar ordenou
a explosão do voo 203 da Avianca, matando
110 pessoas - Galán não estava a bordo. O
mundo testemunhou o horror através de
fotos de uma carcaça vermelha de avião,
REVISTA DA CAASP 67 LITERATURA
Luís Carlos Galán foi morto em praça pública.
abatido em pleno voo, janelas sem vidro
feito olhos vazados, retorcida em meio a
árvores destroçadas. Não bastasse isso, no
mesmo ano, outra explosão na Central de
Segurança da Colômbia deixou centenas
de mortos. E ainda em agosto de 1989
Escobar finalmente conseguiu seu intento
hediondo: Galán foi assassinado em praça
pública, deixando três filhos órfãos e o
povo colombiano desesperado.
A escalada que se seguiu obrigou Pablo
Escobar a render-se. Em 1991, entregou-se
às autoridades. Mas era uma farsa à
altura de sua inteligência. Al Capone, por
comparação, tinha a malícia do Pica-Pau dos
desenhos animados. Escobar convenceu
as autoridades a permitir que ficasse
em uma espécie de prisão domiciliar, na
verdade uma luxuosa fortaleza construída
por ele mesmo exatamente para esse
fim, chamada de “La Catedral”. Lá ele
recebia a família, amigos, prostitutas, dava
entrevistas e festas faraônicas, e exercia
chantagem e ameaças de morte contra
os políticos e suas famílias. Policiais eram
sequestrados, torturados e mortos em
uma ala especialmente equipada. Contra
promessas de rendição, conseguiu o fim