
ardiloso advogado Wajdi Wehbe
(Camille Salameh). Provocador e
sarcástico, suas abordagens inflamam a
audiência e a população. Yasser, por sua
vez, é representado pela inexperiente
e altruísta Nadine Wehbe (Diamand
Bou Abboud). A jovem passa pouca
confiança, mas logo o sangue lhe aflora
e ela se mostra talentosa e capaz de
atitudes indecorosas, se o jogo assim
pedir.
No tribunal, 15 anos de guerra civil
libanesa são revisitados. De um modo
ou de outro, eles estão conectados ao
passado de Tony e Yasser. O massacre
de palestinos cometido por cristãos
e os avanços de facções palestinas e
suas atrocidades em vilas cristãs são
apresentados no julgamento. Essa
estratégia faz com que, a contragosto,
o refugiado palestino e o libanês cristão
alternem-se em papéis de vítima e
agressor. A narrativa dá o mesmo peso aos
dois lados da história.
“O insulto” é fruto de um roteiro escrito
a quatro mãos. O diretor Ziad Doueiri,
anos de guerra cívil
um mulçumano, divide a autoria
da trama com sua ex-esposa, a
cristã Joelle Touma. Ele escreveu
as cenas de diálogo da direita
cristã, enquanto ela redigiu a
perspectiva palestina. Além disso,
Doueiri cresceu ouvindo relatos de
disputas legais – sua família era de
juristas.
Quem são os verdadeiros
algozes e as verdadeiras vítimas?
Violência física é mais grave
que uma difamação? Tudo e
qualquer coisa dita se justificam
pela liberdade de expressão? –
pergunta o filme ao espectador.
A ampla divulgação do
julgamento faz Tony ser adotado
REVISTA DA CAASP 61
pela extrema-direita cristã como um
resistente contra a “descaracterização
da sociedade libanesa” provocada pelo
fluxo de refugiados palestinos, enquanto
Yasser se torna o rosto da condição sub-humana
imposta aos palestinos no Líbano
e no mundo, pauta da esquerda. O embate
entre esses grupos toma as ruas, levando a
protestos, violência e até morte.
Este é o quarto longa de Doueiri que
tem procurado se debruçar sobre conflitos
culturais de etnias no Oriente Médio e, por
isso, sofre retaliações. Por “O atentado”
(2012) Doueiri chegou a ser preso e com
“O Insulto” sofreu tentativas de censura no
Líbano e em outros países árabes.
Por mera formalidade de regras a que
um filme de tribunal está sujeito, o caso
de Tony e Yasser tem um veredito. Mas
o que menos importa aqui é a decisão
da juíza. “O Insulto” é um lembrete de
que ressentimentos e ódio não acabam
necessariamente quando uma guerra
termina. Há chagas que quando mal
curadas podem ser reabertas nas mais
triviais situações.| (KP)
CINEMA
O diretor Ziad Doueiri, debruçando-se sobre
conflitos culturais do Oriente Médio.
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