
não davam conta de atender aos desafios
da população e à renda mal distribuída.
Com o Estado incapaz de enfrentar as
tensões sociais, instalou-se a guerrilha. Os
movimentos guerrilheiros revolucionários
optaram por uma doutrinação ideológica
que respondia aos questionamentos
tanto de universitários, intelectuais e
integrantes da classe média urbana
quanto dos camponeses desfavorecidos.
Em 1964, organizou-se o Exército de
Libertação Nacional (ELN), inspirado
na Revolução Cubana e composto por
voluntários. Pouco tempo depois, milícias
camponesas das regiões periféricas
influenciadas pelo Partido Comunista
viriam a se transformar nas Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc). Paralelamente, poderosos
cartéis se desenvolveram em Medellín
(Antioquia) e Cáli (Valle del Cauca).
A Colômbia não era tradicional
produtora de coca. Os cartéis cuidavam
REVISTA DA CAASP 65
do refino da coca peruana e boliviana, e do
tráfico. Regiões isoladas e autossuficientes
mostravam-se ideais para os laboratórios
e pistas clandestinas. Na adolescência de
Pablo Escobar, esta rede já existia, e apesar
de relevante, era uma ínfima porção da
indústria multinacional que viria a se tornar
pela visão estratégica e ambição sem limites
do menino pobre de Antioquia. Na década
de 1970, quando Pablo Escobar começou
a atuar, a relação do narcotráfico com
a sociedade colombiana era simbiótica,
uma associação de interdependência
entre sociedade e criminosos. Em poucos
anos, a relação tornou-se parasita, com
a corrupção sendo utilizada de maneira
extensiva como um instrumento de defesa
dos interesses ilícitos. Em 1974 já havia a
emblemática ventanilla siniestra, um guichê
oficial onde traficantes podiam depositar
legalmente o dinheiro obtido no crime.
Era uma máquina estatal de lavagem de
dinheiro.
No ano seguinte, Pablo Escobar já era
um jovem milionário, e em 1976 foi preso
transportando cocaína. Disso tirou uma
LITERATURA
Pablo Escobar, ousadia criminosa nunca igualada.