
60 REVISTA DA CAASP
É dessa ofensa - que em árabe
deve ser mais ultrajante do que a legenda
em português consegue expressar - que
parte a trama “O Insulto” (2017), que foi
concorrente ao Oscar de Melhor Filme em
Língua Estrangeira deste ano.
À primeira vista, o desentendimento
entre Tony e Yasser parece um problema
simples de ser resolvido. Basta que o
mestre de obras se retrate para que tudo
seja esquecido. Mas a verdade é que eles
tinham razões para se odiar antes mesmo
do fatídico encontro. O desentendimento
dos protagonistas é só o pano de fundo
para questões muito mais sensíveis que
o diretor Ziad Doueiri deseja tratar, num
filme que é uma mistura de ficção, memória
e realidade.
Tony é cristão fervoroso e fiel seguidor
do partido de extrema-direita de Bachir
Gemayel, presidente eleito em 1982 e
assassinado dias antes de assumir o poder,
num atentado com um carro-bomba que
vitimou outras 26 pessoas durante a Guerra
Civil Libanesa (1975 a 1990). Yasser é um
palestino mulçumano que, apesar de viver
em Beirute há décadas e ser casado com
uma libanesa, tem status ilegal no país e,
por isso, mora num campo de refugiados.
Exata situação de outros 174 mil refugiados
palestinos que vivem no Líbano hoje.
Yasser decide se desculpar com Tony.
Nesse dia, o mecânico assiste à gravação
de um dos discursos de Gemayel na tevê.
“O refugiado palestino vaga pelo mundo
arruinando tudo em seu caminho”, diz o
líder póstumo. Eles voltam a se desentender
e Tony solta a infeliz frase “Gostaria que
Ariel Sharon tivesse exterminado todos
vocês”. O mestre de obras perde a cabeça
e quebra duas costelas do mecânico.
A questão chega à Justiça e daqui em
diante “O Insulto” é definitivamente um
filme de tribunal. No primeiro embate
judicial, os próprios protagonistas se
representam e Yasser acaba inocentado.
Sentindo-se injustiçado, Tony recorre e o
caso avança para um tribunal superior.
O teor político por detrás dessa disputa
desperta a atenção do experiente e
CINEMA
WEB
Ora vitímas, ora agressores, personagens encarnam 15 anos libanesa.
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