
ESPECIAL 36 REVISTA DA CAASP
aumentou, tem mais gente usando, e
assim mesmo o preço caiu. Isso significa
que se está entregando mais droga”, avalia
Mingardi, que foi secretário municipal de
Segurança em Guarulhos.
Para Renato Sérgio de Lima, presidente
do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
a queda dos homicídios dolosos em São
Paulo é real e bem-vinda. Porém, ele
também enxerga na hegemonia do PCC
um dos fatores responsáveis: “O negócio
do PCC é dinheiro e, sendo assim, onde
há monopólio não há disputa. O PCC
conseguiu o monopólio da droga em São
Paulo e, com isso, não há tanta disputa por
território. Assim, as mortes foram caindo”.
Bem mais duro com o governo paulista
é o presidente do Sindicato dos Policiais
Civis do Estado de São Paulo, João Batista
Rebouças da Silva Neto “O governo,
aproveitando o momento político e a
situação caótica da segurança no país, vem
alardeando que, em São Paulo, houve um
decréscimo no número de homicídios.
Na verdade, isso não acontece. São Paulo
continua sendo uma cidade dominada pelo
crime”, afirma.
Rebouças cita a redução no número de
policiais como argumento para denunciar
a falta de coerência por parte do governo:
“Em 2008, quando fizemos a greve (a
maior da histórica da categoria), éramos 32
mil. Hoje estamos perto de 19 mil. Hoje,
o policial, o operacional, o investigador,
tem desvio de função. Ele faz tudo, menos
investigar”.
São 130 mil inquéritos policiais e só
2% esclarecidos, segundo ele. “É muito
fácil você dizer que diminuiu o número de
homicídios. Só que, no registro, em vez de
homicídio, aparece ‘morte a esclarecer’ ou
‘encontro de cadáveres’. Ou morreu em
confronto com a polícia. Tudo isso permite
dizer que os homicídios diminuíram. Na
verdade, não diminuíram. O que diminuiu
foi o quadro de policiais”, acusa Rebouças.
“O governo não fala a verdade, não gosta
de ouvir isso. Diz que é uma crítica política,
mas nós não somos filiados a nenhum
partido nem a nenhuma central sindical.
Nós queremos que a população tenha
a polícia que o governo fala que tem”,
desabafa.
Para Rebouças, o governo paulista
desmantelou a Polícia Civil. “É uma polícia
velha, cansada, procurando hoje outros
meios para sobreviver. Depois do Estado
investir no policial por 10 anos, ele vai
trabalhar na iniciativa privada, onde tem
seguro, cesta básica e outros benefícios, e
sai da polícia”, diz.
Há alguns meses, o Sindicato dos Policiais
Civis denunciou o titular do 4º Distrito de
Polícia de São Paulo por pressionar as
equipes a cumprirem metas de flagrante.
“A polícia não tem que forjar flagrante,
tem que trabalhar com inteligência. Fazer
flagrante é fácil: você vai na Cracolândia
e pega dois ou três minitraficantes que
estão fumando crack ou maconha e faz o
Arquivo CAASP
Mingardi: “Não há nenhuma maravilha em
São Paulo. O tráfico continua”.