
flagrante. Mas isso não resolve.”
A crítica à política de estímulo aos
flagrantes é corroborada por Renato
Sérgio de Lima. “O sistema como um
todo trabalha muito. A PM de São Paulo
atende por ano a cerca de 40 milhões de
ocorrências, das quais 20% são de natureza
criminal, portanto entre 8 milhões e 10
milhões de ocorrência criminais todos os
anos. O sistema de fato trabalha muito,
mas de forma anacrônica. Não se trabalha
com uma filosofia orientada a resolver
problemas. No caso do furto de celular,
qual é a cadeia do produto? Qual é a cadeia
do roubo de carro, desde o desmanche até
REVISTA DA CAASP 37
o chefe da quadrilha? Ou seja, investimos
pouco em investigação e priorizamos
o flagrante. Ao priorizar o flagrante,
reproduzimos desigualdades, porque
quem acaba cometendo o crime na rua é
sempre o pobre, jovem e negro, enquanto o
crime que exige investigação fica impune”,
raciocina o presidente do FBSP.
A Revista da CAASP tentou insistentemente
entrevistar o secretário de Segurança
Pública do Estado de São Paulo, Mágino
Alves Barbosa Filho, mas não obteve
retorno.
ESPECIAL
PRESÍDIO:
“ESCRITÓRIO DO MARCOLA”?
É comum especular-se na mídia que
a ordem para determinado crime saiu de
dentro de um presídio. De pronto leitores
e telespectadores imaginam Marcola, com
seu celular, na penumbra do submundo
do cárcere, passando sinistramente
orientações aos seus subordinados do PCC
ativos nas favelas e nas periferias. A imagem
que se projeta na mente do público pode
não ser totalmente irreal, mas suposições
cinematográficas deveriam ser deixadas de
lado, ao menos para o coronel José Vicente
da Silva.
“Nós observamos que não há um
comando direto tão estruturado quanto se
imagina. Acho que se fantasia muito essa
questão. Só com um celular e bilhetinhos
não se comanda um grupo criminoso”,
adverte Silva. “Os grupos que estão fora
têm sua liderança, sua estrutura, sua
administração. Mexem com dinheiro, com