
Rodrigo Lara Bonilla, assassinado a mando de
Escobar.
LITERATURA 66 REVISTA DA CAASP
lição importante: nunca mais pegaria
estrada com a droga. Passou a contratar
terceiros para o transporte, inicialmente
por terra, mas logo por avião, o que levou
seu negócio ao vizinho rico, Miami. Se Juan
Pablo Escobar não fosse seu filho e sim um
autor de ficção, poderia dizer que foi esse o
começo da queda de seu protagonista. Isso
porque o negócio se expandiu tão rápido
que em 1978 a guerra entre traficantes
acabou matando mais de 100 pessoas
em Miami, levando presidente Turbay,
da Colômbia, a autorizar a derrubada
de narcoaviões e assinar um tratado de
extradição com os EUA.
Ainda acreditando no sucesso da relação
simbiótica e tomado, segundo seu filho,
por um espírito genuinamente altruísta,
Pablo Escobar começou, em 1980, a
construir casas, igrejas, campos de futebol
e até um bairro inteiro para pessoas que
viviam num lixão. Com efeito, ao final da
década, estaria produzindo 80% da cocaína
mundial, e entregando 15 toneladas por
dia nos Estados Unidos, enquanto gozava
de amplo apoio popular.
Como em um script de Shakespeare, o
rei do tráfico perdeu a noção de limites.
Ser apenas milionário e amado pelo povo
não bastavam. A ideia de extradição para
os Estados Unidos o desestabilizava,
porque sabia que lá ficaria preso comme
il faut. Decidiu entrar para a política para
poder controlar a lei. Em 1982, diz seu
filho, “Escobar errou ao eleger-se para o
Congresso colombiano. Acreditava que
poderia traficar tranquilamente enquanto
membro do Congresso”. Alguns políticos
- poucos - tinham a coragem de expor
seus crimes e desafiá-lo publicamente.
Rodrigo Lara Bonilla, ministro da Justiça,
foi um deles: conseguiu expulsar Escobar
do Congresso no mesmo ano. Durante
os meses que se seguiram, houve várias
tentativas de instauração de processo e
extradição, às quais Escobar reagiu com
bombas, assassinatos e sequestros. Em
1984, sob suas ordens, foi assassinado
Rodrigo Lara Bonilla, herói nacional e pai
de quatro filhos pequenos. A partir deste
momento, Pablo Escobar sabia que seria
odiado, um bandido para sempre.
Juan Pablo, então com 7 anos, passou a
ver reportagens na TV acusando seu amado
pai de crimes inimagináveis. Escobar-pai
não negou nada. Muito pelo contrário:
explicou ao filho a natureza de seus
‘negócios’, a frieza para com suas vítimas e
suas famílias, e reafirmou seu amor à sua
própria família. O menino descobria que
seu pai, afável, cheio de amigos, carinhoso
com os animais, salvador dos pobres e
miseráveis, era o assassino de um herói
nacional. Pablo deixou muito claro para
seu filho que nunca renunciaria a esta
vida de crime. A partir desde dia, o garoto
tinha um pai fraturado em duas partes
horrivelmente incongruentes.
É impossível medir a dor daquela
criança. Nem o próprio Juan Pablo, agora
com outro nome, vivendo em outro país,