perspectiva.
Como os intelectuais devem se relacionar com a política?
Você tem vários tipos de posturas e atitudes. Uma delas é justamente a de que não cabe
confundir as esferas, que o intelectual deve ter a distância e a liberdade para ser um crítico
do poder. É uma posição que nos vem da ilustração. Com a secularização que caracteriza o
mundo contemporâneo, o poder ideológico, que o poder das ideias, se viu separado do poder
político. No estado medieval ou no estado
pré-Revolução Francesa, havia uma junção
entre o poder intelectual e o poder político.
Com a Revolução Francesa, simplificando,
isso deixou de existir. Então, uma das
posições é justamente a do intelectual que
se mantém fora.
Dessa posição deriva uma outra, a de que
cabe aos intelectuais serem sempre críticos
sistemáticos do poder, não se preocupando
com a maneira pela qual o poder deve
resolver os problemas, mas sendo sempre
críticos do exercício do poder.
Depois, você tem o que Gramsci (Antonio
Gramsci, filósofo marxista italiano) chamava
de “intelectuais orgânicos”, aqueles que dão
legitimidade a um tipo de posição ou de
poder.
Depois você tem, finalmente, a necessidade
de os intelectuais darem ao poder os
conhecimentos técnicos de que ele necessita
para o seu exercício. Você não pode ter um
sistema que funcione sem bons economistas,
sem bons juristas, sem bons engenheiros
etc. Então, fornecer conhecimentos-meio
para os conhecimentos-fim de conduzir um
país em tal ou qual sentido.
Você tem também os intelectuais que eventualmente exercem o poder em tal ou qual
função, como ministros etc. E tem o raro caso daqueles intelectuais que são efetivamente
bem sucedidos no exercício do poder – o Fernando Henrique é um raro caso de intelectual
bem sucedido, eleito democraticamente duas vezes no primeiro turno em um país de
escala continental, que exerceu o poder com as competências e habilidades de um grande
intelectual.
Se você olha a realidade brasileira, você vê que os intelectuais exercem todos esses tipos de
função. |
CELSO LAFER | ENTREVISTA 20 REVISTA DA CAASP
NÃO HÁ NENHUM
PROBLEMA DA
AGENDA AMBIENTAL
NO MUNDO
QUE POSSA SER
EQUACIONADO SEM
UMA CONTRIBUIÇÃO
BRASILEIRA.