A esquerda brasileira não morre de amores
por Celso Lafer, mas não se pode chamar
de direitista um intelectual cujas influências
maiores são Hannah Arendt e Norberto
Bobbio. O que afasta Lafer da esquerda é o
julgamento que essa vertente faz da política
internacional nos anos FHC: subserviente aos
Estados Unidos, na sua visão. O ex-chanceler
faz outra leitura do período, quando esteve à
frente do Ministério das Relações Exteriores: “O
presidente Fernando Henrique se preocupou
em assegurar uma inserção internacional do
Brasil nos moldes daquilo que existia como
possibilidade no final do Século XX e início do
Século XXI. Eu acho que ele elevou o patamar
de presença do Brasil no plano internacional”.
Poucos intelectuais têm um currículo
como o de Celso Lafer: formado em Direito
pela Universidade de São Paulo e em
Ciência Política pela Universidade de Cornell
(EUA), professor livre-docente de Direito
Internacional Público e professor titular de
Filosofia do Direito, ambos na USP, presidente
da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo), ministro das
Relações Exteriores de dois governos (Collor e
FHC), ministro do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio (FHC), embaixador do Brasil junto
à OMC (Organização Mundial do Comércio)
e junto à ONU (Organização das Nações
Unidas), membro da Academia Brasileira de
Letras.
Na entrevista a seguir, concedida do editor
da Revista da CAASP, Paulo Henrique
Arantes, Celso Lafer fala de política
internacional, economia, neoliberalismo,
aquecimento global, Lula, Fernando Henrique,
Temer, ativismo judicial, imigração (“Repete-se
com intensidade crescente aquilo que
foi o drama pré-Segunda Guerra Mundial:
o drama daqueles que não encontram
destino”), globalização, populismo e Donald
REVISTA DA CAASP 7
VIVEMOS
UMA ÉPOCA
DE RUPTURAS
PROFUNDAS.
Trump: “O tema de Trump, desde o primeiro
momento, era a America first. Se eu acho que
a única maneira pela qual eu devo atuar no
plano internacional é a America first, eu estou
ignorando o próximo, o outro”.
A seguir, a entrevista com Celso Lafer, para
quem o mundo vive uma época de rupturas
profundas.
ENTREVISTA | CELSO LAFER