partícipe do processo político e
social do sonho norte-americano.
Agora, se você olha o que o
Trump significa, ele foi eleito com
sucesso porque mobilizou os
ressentimentos, e, naturalmente,
ele atendeu a uma preocupação
de uma parte da população norte-americana
REVISTA DA CAASP 11
que se viu afetada
pelos deslocamentos trazidos
pela globalização, e também pelo
fato de que o Partido Democrata
ter conduzido uma campanha
política baseada no atendimento
de reivindicações identitárias,
dos imigrantes, as questões de
gênero e assim sucessivamente,
e não mobilizaram a ideia de um
sentimento geral unificador da
sociedade americana. O Trump
conseguiu fazer isso desta maneira
populista, com base em ideias
simples porém erradas, entre elas,
naturalmente, a xenofobia, o nacionalismo exacerbado.
O tema dele, desde o primeiro momento, era a America first. Se eu acho que a
única maneira pela qual eu devo atuar no plano internacional é a America first, eu
estou ignorando o próximo, o outro. Então, ele está enfrentando, e vai enfrentar
continuamente, a resistência à afirmação do poder dos Estados Unidos.
Como resultado, isso pode significar justamente o contrário, o enfraquecimento
dos Estados Unidos no cenário internacional, não?
E eu acho que ele está tendo esse efeito contrário no cenário internacional. Por quê? Porque
o mundo é complexo, é heterogêneo, está muito dividido. De maneira que, para atuar neste
mundo, você precisa buscar interesses comuns e compartilhados – não é fácil. E também
lidar com a “Torre de Babel” da heterogeneidade de perspectivas. Se você diz que a única
perspectiva é a sua, você esbarra na perspectiva de todos os demais, e o resultado não pode
ser positivo.
Não é triste, depois de tantos anos da Declaração dos Direitos Humanos, de tantos avanços
civilizatórios, ver os imigrantes serem tão mal tratados no mundo todo?
Eu acho esse um dos grandes problemas da ordem mundial.
O que são os refugiados? Os refugiados são os deslocados do mundo, os que não estão em
casa no mundo, os que não encontram um lugar no mundo. E eles se multiplicaram de uma
maneira extraordinária. Repete-se com intensidade crescente aquilo que foi o drama pré-
Segunda Guerra Mundial, o drama daqueles que não encontram destino.
ENTREVISTA | CELSO LAFER
HAVIA A
NOÇÃO DE QUE
O MERCADO
SERIA CAPAZ DE
AUTORREGULAR-SE,
E A CRISE
DE 2008-2009
MOSTROU QUE O
MERCADO NÃO É
CAPAZ DISSO.