DÉFICIT
ESPECIAL 26 REVISTA DA CAASP
Déficit é a palavra mais usada pelos
economistas que adoram cortes, muitos
dos quais enxergam problemas sociais
enraizados como solucionáveis apenas
pela lógica aritmética. Fatores humanos
à parte, a Previdência Social registrou em
2017 déficit recorde de 268,8 bilhões de
reais, segundo o Governo, considerados o
INSS e o Regime dos Servidores Públicos
da União – uma alta de 18,5% sobre o
resultado de 2016. Sem dúvida elevado,
o rombo tem sido responsabilizado por
quase todas as mazelas nacionais e, a
reforma da Previdência, apresentada como
garantia de um futuro próspero e luminoso
para a nação.
“Tem um certo exagero nisso. A reforma
da Previdência é importante, mas não vai
resolver tudo, mesmo porque, no curto
prazo, ela vai é postergar um pouco a
evolução das despesas”, afirma Nélson
Marconi, da FGV.
O olhar sobre o gasto, com certo
desprezo por modificações no lado
da receita, predomina entre alguns
economistas, como Luís Eduardo Afonso,
da USP: “O primeiro ponto para o qual
temos que olhar é o nosso nível de gasto
– o déficit é resultante desse nível de gasto
e das escolhas da sociedade, por meio dos
seus representantes. Há um conjunto de
países que gasta pouco porque é jovem; há
outro conjunto de países que gasta muito
porque é idoso; há mais um conjunto de
países que tem uma proporção de idosos
mais alta mas confia nas decisões de
poupança; e há um país que é uma exceção
absoluta: é ainda jovem e gasta muito com
previdência - gasta 13% do seu PIB com
previdência. Esse último país é o Brasil”.
Vale contrapor aos “aritméticos” a
sentença do economista Luiz Guilherme
Schymura, da Fundação Getúlio Vargas:
“Se eu mandar matar todos os velhos, por
exemplo, resolvo o problema previdenciário
e o país cresce 10% ao ano. Mas isso é
aritmética, não é o mundo”. Schymura é
presidente do Ibre (Instituto Brasileiro de
Economia), centro de estudos fundado
em 1951 por dois dos maiores expoentes
do pensamento liberal brasileiro, Eugênio
Gudin e Octavio Gouveia de Bulhões, o que
o imuniza contra o rótulo de “esquerdista”.
Tanto os movimentos do Executivo