de mobilizar os países. Eu acho que há uma tendência a trabalhar por meios de mitigar e
enfrentar a situação.
Você sabe que eu presidi durante alguns anos a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo), e a Fapesp tinha um programa importante de mudanças climáticas
globais, de alternativas energéticas, e também um programa relacionado ao impacto disso
na nossa região, porque não é o mesmo. Quer dizer, o impacto é geral, mas atinge mais ou
menos os países de acordo com a sua localização. Por exemplo, nevasca não é o que vai
acontecer aqui, mas torrentes, chuvas etc. são o que acontece, inclusive acontecem coisas
como a mudança da fronteira agrícola: o café se deslocou de São Paulo e do Paraná para
Minas Gerais e Bahia, o que é um efeito da mudança climática.
Nós somos um país grande, de maneira que esse efeito dá para absorver. E é claro que o
etanol e o etanol de segunda geração são um caminho pelo qual nós podemos trabalhar a
melhoria da nossa matriz energética.
Agora, acho que um dado novo neste assunto é a posição da China. A China se deu conta
de que o problema ambiental era um problema de sobrevivência da própria China. Eu fui
a Pequim, numa reunião da Fapesp. É difícil respirar lá e parece que está cada vez mais
complicado. Então, uma das coisas que os chineses fizeram foi intensificar as exigências
das municipalidades sobre eficiência energética, porque ela se deu conta de que o tema da
modernização e da competitividade econômica também passava por essa dimensão.
É claro que o tema ambiental é também inclusivo da
soberania, porque você não resolve isso apenas no
âmbito de um Estado, pois se trata de um problema
global. Daí as dificuldades de ir administrando esses
desafios no plano internacional.
Mas eu tendo a ser mais otimista quanto ao futuro
dessa agenda. A agenda internacional é complexa,
tem várias dimensões, mas a área ambiental é uma
área em que nós somos uma grande potência. Não há
nenhum problema da agenda ambiental – climático,
de biodiversidade – que possa ser equacionado sem
uma contribuição brasileira.
Precisamos ser soberanos nesse tema, não?
E temos a legitimidade com que nos veem por
termos produzido no Brasil a Rio 92. Então, nos cabe
uma liderança importante na procura de interesses
comuns e compartilhados em relação à agenda
ambiental.
O senhor enxerga o Brasil atual exercendo essa
liderança?
Eu acho que o Governo Temer é um governo de
transição, tem as suas dificuldades, mas eu acho que
o presidente (Michel) Temer, assim como o ministro
REVISTA DA CAASP 15
ENTREVISTA | CELSO LAFER
TRUMP ELEGEU-SE
DE MANEIRA
POPULISTA,
COM BASE
EM IDEIAS
SIMPLES PORÉM
ERRADAS,
ENTRE ELAS A
XENOFOBIA E O
NACIONALISMO
EXACERBADO.