54 REVISTA DA CAASP
O homem que fazia chover não trouxe
Francis Ford Coppola de volta ao apogeu
cinematográfico, mas mostrou um cineasta
competente e, humildemente, disposto
a contar uma boa história sem grandes
nuances criativas.
O mote já não era novidade em 1997,
todavia revela-se atual em 2018: um
verdadeiro Davi x Golias entre advogados,
calcado na luta de cidadãos simples contra
a crueldade do poder econômico.
Se existe um subgênero cinematográfico
que possa ser chamado de “filme de
advogado”, O homem que fazia chover
é seu exemplo acabado. Nele estão as
virtudes humanísticas desse profissional
da justiça, bem como suas matreirices,
seus subterfúgios e suas habilidades para,
digamos, prevalecer nos tribunais.
No filme de Coppola, como no livro de
Grysham, brilha o advogado idealista mas
brilham também o rábula e o causídico
janota, contratado “a mil dólares a hora”
por uma poderosa seguradora.
Rudy Baylor (Damon) forma-se em
Direito e logo conquista sua carteira de
advogado. Emprega-se em um escritório
de Memphis cujo dono (Mickey Rourke,
cafonérrimo) assemelha-se mais a um
mafioso, e de fato está sendo investigado
pelo FBI. Ali, dizem a Baylor, ele estará em
uma verdadeira escola de advocacia e seu
professor será o impagável rábula Deck
Shifflet, interpretado por Danny DeVito,
que vive a caçar pacientes estropiados em
hospitais para processar seguradoras de
saúde.
“Na faculdade só te ensinam valores
morais e te mandam ler livros de ética. Não
é assim que funciona”, sentencia Shifflet.
Dentre as causas de estreia de Baylor
no suspeitíssimo escritório, a de maior
potencial financeiro é contra a poderosa
seguradora Great Benefit. Nesse ponto
surge a característica mais marcante do
filme: a mescla, sem exageros, entre os
tons cômico e dramático. O histrionismo de
Shifflet não conflita com a revolta do jovem
CINEMA
WEB
Voight: advogado “a mil dólares a hora”.
Reprodução