Aloysio (Nunes Ferreira, das Relações Exteriores) e o ministro do Meio Ambiente,
Sarney Filho, têm consciência da importância deste tema, e batalham. Claro, há
sempre conflitos internos no governo, mas acho que este é um governo que tem
consciência disso e quer levar isso adiante.
Gostaria que o senhor analisasse o modelo de nação chinês, por uns chamado de
capitalismo de Estado, por outros de comunismo de mercado.
Não é uma pergunta de resposta fácil. A China revelou uma capacidade de mudança
e de atualização muito significativa. Incorporou parcelas muito significativas de
uma população de milhões e milhões de pessoas. Agora, ela não é uma democracia,
claramente. É um regime de partido único.
Eu acho que os chineses se deram conta do que foi o fim da União Soviética, e
resolveram tirar também daí as suas lições.
Em termos econômicos, correto?
Em termos econômicos e políticos. Em termos políticos o fim da União Soviética
representou o fim do Partido Comunista, que na China não acabou, mas se
consolidou com a ideia de planejamento, uma coisa que os chineses são capazes
de exercer porque têm uma visão de longo prazo.
Convém não esquecer que os chineses têm uma tradição de grandes comerciantes,
daí a Rota da Seda. Há também a maneira pela qual a China expande a sua rede e
seus laços econômicos com a sub-região da Ásia, onde ela se insere. Estes são os
comentários com os quais me sinto à vontade para falar sobre a China.
É notória a desindustrialização do Brasil nas últimas duas ou três décadas. Há
economistas que não veem problema nisso, tendo em vista novos modelos de
desenvolvimento. O senhor concorda com eles?
Eu venho de uma família de industriais, de pessoas que se dedicaram à implantação
bem-sucedida de indústrias no Brasil. Acho que a indústria representa uma densidade
econômica importante. Agora, é claro que o modelo clássico de substituição de importações,
dentro do qual se deu a industrialização brasileira no Século XX, dada à mudança pela qual
se dá hoje a formação das cadeias de valor, não pode ser seguido nos mesmos moldes. Mas
acho que cabe pensar na competitividade sistêmica da indústria brasileira, e também acho
que ela é importante para o país e para nossa presença no mundo.
Nesse campo, é necessário algum grau de protecionismo, não?
É da natureza, porque mesmo a OMC nunca colocou a ideia de um mundo de livre-comércio
irrestrito. Sempre colocou a possibilidade do maior e melhor intercâmbio comercial de bens.
E se hoje as tarifas estão baixas, isso não quer dizer que não existam outros mecanismos
que são importantes nesse sentido de acesso a mercados. Por exemplo, barreiras técnicas
ao comércio, controles ou filtros sanitários, para dar alguns exemplos.
Este é um tema que significa que o Estado permanece como uma instância de intermediação
entre o interno e o externo que guarda relevância.
Vamos falar da política externa praticada pelo Brasil, nos atendo aos governos de Fernando
Henrique Cardoso, do qual o senhor foi ministro das Relações Exteriores, e de Luiz Inácio
16 REVISTA DA CAASP
CELSO LAFER | ENTREVISTA