o cerco nazista se fechando e temendo
pela vida da esposa e do filho, por serem
judeus, emigrou mais uma vez para Paris,
onde todos acreditavam estar seguros.
Apenas três anos mais tarde foi necessário
fugir, desta vez, para os Estados Unidos.
Seu irmão não conseguiu escapar a
tempo, e foi assassinado em um campo
de concentração. Ao completar 40 anos,
Vladimir Nabokov já havia sido exilado
político da União Soviética, da Alemanha
nazista e da França colaboracionista, e
havia perdido seu pai e seu irmão em
tragédias da História.
Não é de se estranhar, portanto,
que pouco tempo depois de instalado
nos Estados Unidos, trabalhando como
pesquisador no prestigiadíssimo New
York Museum of Natural History, com
acesso a vastas bibliotecas públicas e
recebido de braços abertos entre os
maiores intelectuais da época, Nabokov
se declarasse “tão americano quanto abril
no Arizona”. Até então, escrevia em russo,
mas logo percebeu que teria muito maior
alcance em inglês, o que passou a fazer
com tal comando que se tornou um dos
maiores escritores em língua inglesa. Tudo
fruto de muito trabalho, já que o inglês que
REVISTA DA CAASP 59
falara na infância e mesmo na universidade
britânica não seria adequado para
representar a linguagem do americano
médio, como muitos de seus personagens.
É aí que entra Lolita: a partir de um
conto e desenvolvido durante uma de
suas muitas viagens pelos Estados Unidos,
quando sua esposa dirigia e ele coletava
espécimes de borboletas. O romance,
inicialmente recusado por editoras
americanas e censurado em vários países
europeus, foi publicado em 1955 por
uma editora de “reputação duvidosa” na
França, e transformou-se em sucesso
imediato. A personagem tem muitos dos
comportamentos que ele observou em suas
viagens; muitos dos locais que Humbert
Humbert e Lolita visitam foram locais onde
Sr. e Sra. Nabokov se hospedaram; os
tipos, as placas, a decoração, a paisagem,
as construções, tudo é muito mais do que
cenário, tão essencial ao romance quanto
o enredo. Nabokov vestia a geografia e a
História debaixo da pele, tinha perfeita
noção de que o homem pode se aproveitar
do destino ou naufragar nele, mas nunca
está acima de suas circunstâncias.
Humbert Humbert, como o autor, vem
de uma família aristocrática. Sua mãe
LITERATURA