Esse é um fenômeno global: é um problema do Oriente Médio, é um problema da Ásia
e é também até um problema, menor, para nós, na nossa região. Haiti e Venezuela são
exemplos do impacto desse processo que afeta as grandes correntes. No Século XIX, o
século da imigração, (Thomas) Jefferson dizia que todo mundo tem direito a encontrar um
lugar no mundo. Se você me permite
um comentário kantiano, é o que Kant
chamava de “direito à hospitalidade
universal”.
Se nós olharmos para aquilo que
hoje nos cerca, veremos que estamos
diante da inospitalidade internacional.
E a postura do Trump é das mais
dramáticas nesse sentido, inclusive a
história do muro a separar o México
dos Estados Unidos, da maneira pela
qual ele veio falando disso e da maneira
pela qual ele veio desconsiderando o
México, que é um parceiro importante
dos Estados Unidos.
Uma questão pontual: o que o senhor
achou a mudança da Embaixada
Americana em Israel para Jerusalém?
Eu achei que a medida aumenta o
número de problemas em vez de
ajudar a resolver um grave problema
do Oriente Médio, porque a definição
do status de Jerusalém é um dos
ingredientes do acordo de paz, e parte
também do contemplado nos acordos
de Oslo.
É evidente que há uma forte relação
entre Israel e os judeus em geral com
o sentido simbólico que Jerusalém
representa, mas é impossível não
reconhecer a importância de Jerusalém
como uma cidade fonte de símbolos e
valores.
Eu estou lendo um vasto livro, ainda não cheguei além das 100 primeiras páginas, que é um
livro do Simon Montefiore chamado Jerusalém, uma biografia. Montefiore é um historiador
importe, escreveu sobre a corte de (Joseph) Stálin, escreveu sobre os Romanov. Ele faz uma
análise de como surgiu essa cidade e dos diversos estratos de culturas e civilizações que
permeiam Jerusalém, desde a Jerusalém bíblica, passando pela Jerusalém muçulmana, pelos
cruzados, pelos ingleses e, finalmente, pelos israelenses. A complexidade deste assunto é
12 REVISTA DA CAASP
CELSO LAFER | ENTREVISTA