
62 REVISTA DA CAASP
fato que o leitor sabe que tudo isso (que
lê) aconteceu de verdade. O autor está
um passo mais próximo ao envolvimento
absoluto do leitor que Henry James e James
Joyce sonhavam mas nunca atingiram”.
Sabendo de onde viemos, resta prever
aonde vamos. Em parte, já chegamos ao
próximo estágio. É convencionalmente
aceito que o New Journalism per se não
estava mais sendo praticado na década
de 1980, mas ele não desapareceu. Ao
fornecer um fórum jornalístico de discussão
e ativismo social, um grupo de escritores
têm silenciosamente ampliado um espaço
bem no centro da literatura americana para
a não ficção de forma longa, baseada em
reportagem narrativa sobre questões sociais
e culturais, elevando-a a níveis populares e
comerciais que seus precursores do século
19 e 20 não podiam imaginar. É o New
New Journalism, ou o Novo New Journalism.
Caracteriza-se pelo rigor factual, sofisticação
psicológica e sociológica e consciência
política. Explora os métodos utilizados
nas últimas décadas, assim como reflete
conhecimento da literatura canônica. Não
são romancistas frustrados nem repórteres
perdidos, são autores de revistas de ensaio
e livros escrevendo a literatura do dia-a-dia.
Perfurar a rocha-mãe da existência,
relatar minúcias da experiência comum ao
longo de meses ou anos é a
sua marca. Da astrofísica ao
futebol de salão, da pescaria
às armas nucleares, tudo vale
para o jornalista literário, com
tanto que seja pesquisado
exaustivamente e relatado
com qualidade literária. Dois
exemplos de enorme sucesso
são Jon Krakauer e seu No ar
rarefeito, sobre a escalada
ao Everest com final trágico em
1996, da qual o autor participou, e Richard
Preston com Zona crítica, sobre o surgimento
e primeira epidemia de ebola, em 1980. O
autor mais carismático desse gênero é David
Foster Wallace, falecido precocemente em
2008, com 46 anos apenas, tornou-se modelo
para toda uma escola de jornalismo. É difícil
apontar qual é a mais relevante entre as
dezenas de livros que publicou, de romance,
ensaio, crítica e contos. Tudo nele era
superlativo. Graça infinita, seu romance de
mais de 1.000 páginas, combina referências
eruditas às mais coloquiais, mas em uma
linguagem e temática sofisticada e simples.
Seus ensaios vão de comportamento dos
passageiros em um cruzeiro até a pesca
da lagosta, e seus leitores estão em todo
lugar. Isto é água, um discurso proferido em
uma formatura de universidade, ganhou
status quase litúrgico entre os blogueiros
e youtubers. O jornalismo literário de David
Foster Wallace potencializou o legado do
New Journalism e o deixou em um nível mais
alto.
Novamente vemos uma efervescência na
literatura de não ficção, mas ainda a herança
do New Journalism é significativa: a construção
de cenas, personagens tridimensionais, voz
do narrador com presença e personalidade,
e um objetivo que vai além dos fatos
narrados. O horizonte de tempo não se limita
à atualidade, ele visa a contemporaneidade.
O autor não direciona o foco de visão a um
Joan Didion: livros foram lançados na Flip.
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