
e individual, Joan Didion ‘traduziu’ suas
observações para o grande público, com
força e delicadeza. No lugar da hipérbole
de Tom Wolfe, a marca de Didion é a dor,
os silêncios, as noites. A imersão de duas
semanas em El Salvador, em 1983, resultou
no livro-ensaio Salvador, enorme sucesso
de público e crítica. Para Didion, o que
diferencia a ficção de não ficção é o processo
de descoberta do último, que ocorre durante
a pesquisa. A escrita é o exercício de traduzir
a descoberta nas frases mais simples e
cristalinas possível. Justamente por essa
qualidade é que deixou leitores e jurados de
prêmios de joelhos em 2005, ao publicar O
ano do pensamento mágico, que trata do luto
pela perda repentina do marido e da filha
após prolongada doença.
Nos primeiros anos houve críticas ao
New Journalism que quase o derrubaram:
era muito subjetivo, diziam alguns. Não era
novo, diziam outros. Era incompatível com a
Gay Talese escreveu um perfil inigualável de Frank Sinatra. Sem ouvi-lo.
REVISTA DA CAASP 61
precisão, chegava a refletir exageros criados
pelos próprios autores... A crítica mais
frequente referia-se à falta de referências
bibliográficas, que indicaria pouco rigor
intelectual ou até negligência do autor. O
grande problema devia-se à preferência,
no New Journalism, de enfatizar a ‘verdade’
em vez de ‘fatos’. Isso só podia funcionar
nas mãos de poucos, dispostos a buscar
uma profundidade de informação nunca
antes exigida no trabalho jornalístico - era
a “reportagem de saturação”, resultado da
imersão do autor em sua matéria, nas vidas
e personalidades de seus “personagens”. O
escritor passou a fazer parte da história, o
que contrariava a regra vigente até os anos
1960, pela qual o jornalista era invisível
para o leitor. Segundo Tom Wolfe, em um
artigo do Esquire em 1972, “muito além das
questões de técnica, o New Journalism tem
uma vantagem tão óbvia, tão inerente, que
é fácil esquecer-se de seu poder: o simples
LITERATURA
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