
PROTEÇÃO DE
DADOS
32 REVISTA DA CAASP
Em tese, as candidaturas do PT, seja Lula
ou outro nome, e a de Jair Bolsonaro podem
se dar ao luxo de gastar menos com ações
na internet, dado o grande contingente de
militantes espontâneos que possuem. “Essas
duas candidaturas têm militantes suficientes
para atravessar as bolhas de pessoas com
o mesmo posicionamento político e tocar
também pessoas que estão fora dessas bolhas.
Isso faz diferença”, explica Pablo Ortellado.
“Eles têm uma tropa de militantes virtuais
nas redes sociais em número muito grande.
Têm sites de notícias muito organizados.
Eles, seguramente, são os principais atores
nas mídias sociais, descontando o dinheiro
de campanha. Trata-se de uma militância
espontânea”, detecta o professor, e vai além:
“Sites ultra-engajados, ultrapartidários, já
moldam o debate público no período entre as
eleições, e há novos sites desse tipo surgindo
agora, em período pré-eleitoral. Se estão
ligados às campanhas oficiais ou são iniciativas
autônomas de apoiadores, é difícil dizer”.
A combinação de sites engajados com uma
sociedade polarizada é a novidade no cenário
político brasileiro, entende Ortellado, para
quem essa divisão, por vezes apaixonada, não
tem data para acabar.
ESPECIAL
WEB
Enquanto fazia uma reportagem sobre
serviços de internet para a Folha de S. Paulo, o
repórter Raphael Hernandes resolveu solicitar
ao Google seus dados armazenados no
gigante de busca (qualquer um pode fazê-lo
por meio de uma ferramenta que a empresa
disponibiliza).
O relato dessa experiência talvez tenha
sido bem mais eloquente que a própria
reportagem em que Hernandes trabalhava,
tanto que mereceu no jornal uma matéria
específica, em tom de depoimento.
Assim escreveu o repórter: “Recebi um
mundaréu de arquivos que, juntos, somavam
27,4 GB – equivalente a 50 mil e-books de
‘Dom Casmurro’. Aproximadamente 15 GB
eram o que eu tinha salvo no Google Drive e
meu histórico no Gmail. De resto, informações
sobre 28 outros serviços da empresa que usei
em algum momento: meu histórico de buscas
desde 2009, vídeos que procurei e que assisti
no YouTube desde 2010, meus contatos,
agenda, fotos (...). O mais divertido foi analisar
meu histórico de localização. Tive o trabalho
de colocar mais de 65 mil pontos em um mapa.
Onde eu estava às 13h do dia 19 de setembro
do ano passado? A informação consta lá (eu
estava na Folha)”.
O leitor imagina a gravidade da violação
dos dados que o Google armazena? Imagina
o que o vazamento dessas informações pode
causar numa campanha eleitoral?