
Os jornais vão desaparecer. Os livros vão
desaparecer. Computadores e algoritmos
muito sofisticados irão fazer tudo que
um jornalista faz hoje. Dizem, mas será?
Não parece. O jornalismo tem mudado de
lugar, linguagem, público e roupagem, mas
sobrevive há séculos. Com a perda recente
de Tom Wolfe (1930-2018), um dos maiores
e mais inovadores nomes do jornalismo
do Século XX, é oportuno refletir de onde
viemos e aonde vamos. O que aprendemos
com gigantes como Tom Wolfe, e o que fazer
com essa herança?
A partir da década de 1960 a escrita
da não ficção sofreu uma revolução
denominada New Journalism, ou Jornalismo
Literário. Wolfe foi um de seus autores
mais influentes, com sua obra de quase
20 livros, quatro romances entre eles. O
Jornalismo Literário, como o nome indica,
é o resultado do trabalho jornalístico sob
a influência da literatura, que traz consigo
não só a notícia, mas também uma história.
Mas não se trata de ficcionalizar o fato, e sim
torná-lo ainda mais real ao humanizá-lo. A
informação ganha companhia de adjetivos,
personagens, enredos, histórico do assunto
e contextualização, ou seja, elementos que
não teriam oportunidade de ganhar vida no
jornalismo tradicional.
Um grande número de recursos faz parte
do repertório do Jornalismo Literário: a
descrição com ponto de vista do narrador, o
uso de diálogos em vez de aspas e citações,
a criatividade, a construção cena a cena
no lugar de narrativa histórica - a marca
mais forte dessa maneira de dar notícia. A
unidade básica da reportagem não é mais o
dado informativo, e sim a cena, a estratégia
sofisticada da prosa.
No lugar da apuração dos fatos
aparentemente incontestáveis, como se
costumava fazer, no Jornalismo Literário
existe a ruptura das características
REVISTA DA CAASP 57
Tom Wolfe: gigante inovador.
burocráticas do lead sem o sacrifício
da precisão de dados e informações,
mas enriquecida pela reconstrução de
pensamentos, sentimentos e emoções e
o uso da metáfora. O registro de detalhes
corriqueiros do comportamento, objetos,
amigos e família, que dão uma ideia melhor
da vida do personagem. É imprescindível a
profunda observação, que frequentemente
ocorre durante a imersão do repórter/
escritor na realidade que investiga, seja um
dia de rotina de uma creche ou um crime
hediondo dentro de um presídio. Essas
estratégias não vieram para substituir o
jornalismo tradicional, elas potencializam
seus recursos. Tempo e espaço ficaram
mais amplos ao ultrapassar os limites dos
acontecimentos cotidianos (um dia em uma
creche pode representar todo um ano) e
proporcionar uma visão mais abrangente da
realidade (um crime em um presídio pode
ser a ponta do iceberg da corrupção num
país inteiro).
Tom Wolfe não inventou o New Journalism.
Esse estilo de notícia tem suas raízes no
Jornalismo Narrativo do Século XVIII, já visível
entre os escritos de Daniel Defoe (1660-
LITERATURA
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