
LITERATURA 60 REVISTA DA CAASP
autor de romances, contos, ensaios, roteiros
de TV e cinema, e cadernos de viagem. Foram
mais de 30 livros, no total. A sangue frio
detalhada narrativa do assassinato de uma
família no remoto Kansas, foi produzido após
longa permanência de Capote próximo aos
assassinos - próximo demais, dizem alguns.
“Sempre tive a teoria de que reportagem é a
grande forma de arte inexplorada... acredito
que uma obra factual poderia explorar
novas dimensões na escrita, que teriam
um efeito duplo que a ficção não tem - de
que cada fato sendo verdade, cada palavra
sendo verdade, daria a dupla contribuição
de força e impacto”. Dessa forma, Capote
argumentava que tudo que publicou era
absolutamente factual, escrito na forma que
ele denominou “romance de não-ficção”. Ele
contribuiu significantemente para a difusão
desse estilo e para o sucesso de Gay Talese,
Joan Didion e o próprio Tom Wolfe.
Frank Sinatra está resfriado é uma matéria
de Gay Talese de 1966, produzida mediante
a frustração do autor em relatar um
evento onde Sinatra iria cantar. Mediante a
incapacitação temporária do milionário ator-cantor-
homem de negócios, Talese dedicou-se
a criar um ‘personagem’ a partir de cenas
bem estabelecidas, com detalhes minuciosos
e narrativa em medias res, ou seja, iniciando
em um ponto já em andamento. O resultado
foi uma nova imagem de Frank Sinatra, mais
humana, mais forte, mais inimitável. Tudo
que está na matéria é estritamente verificável,
mas em vez de fatos, citações e uma
conclusão previsível, o autor parece seguir
seu personagem por vários dias, conviver
com ele através dos olhos de seus amigos
e esposas. O narrador em terceira pessoa
não é impessoal nem tem a pretensão da
objetividade, é a subjetividade que conquista
o leitor. Gay Talese desenvolveu essa técnica
a tal ponto, que seus leitores acreditariam
em quase qualquer coisa que escrevesse.
O poderoso chefão, de Mario Puzo, brilhante
romance de 1969 sobre as famílias da Máfia
em Nova York, trouxe personagens icônicos
ao imaginário do grande público, mas dois
anos mais tarde, quando foi lançado Honra
teu pai, um livro-reportagem
de Gay Talese sobre o mesmo
tema, os personagens ganharam
sua terceira dimensão. Não há
nada mais permanente do que a
realidade, tratada como a melhor
literatura merece.
Nem só de guerra e crime vive o
New Journalism. Para demonstrá-lo,
aí está Joan Didion, cujos livros
serão lançados no Brasil pela
Harper Collins durante a Flip.
Nascida na California em 1934,
a jornalista, romancista, autora
de memórias e roteiro totalizando 26 livros,
começou a publicar em 1963, pouco antes
da efervescência do New Journalism, mas já
com essa pegada. Da literatura, sua maior
influência vem da funcionalidade das frases
de Hemingway e da concisão e simplicidade
das frases de Henry James. Mas foi a análise
da moral americana, o caos cultural, as
subculturas pouco conhecidas que mais a
atraiu. Sob a ótica da fragmentação social
Capote: romance de não ficção.
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