
LITERATURA 58 REVISTA DA CAASP
1731), jornalista e romancista inglês autor
de Robinson Crusoe, o romance mais lido e
traduzido de todos os tempos. Somente a
Bíblia recebeu mais traduções.
A escola do realismo social manifestava-se
já no Século XIX nas pesquisas de campo
detalhadas a que passaram a se dedicar os
autores antes de compor um romance ou
novela, produtos da observação minuciosa
da realidade. Alguns autores de ficção
também começaram a produzir trabalhos
jornalísticos que ficariam caracterizados
como “literatura do fato real”. Nos Estados
Unidos, Mark Twain viajava pelo Mississippi
enquanto coletava informações para seus
artigos de jornal intensamente críticos ao
governo e para seus personagens imortais,
Tom Sawyer, Huckleberry Finn e Jim. Charles
Dickens, na Inglaterra, fazia levantamentos
de ambientes, costumes, tipos humanos
e linguagens junto às classes socialmente
marginalizadas como ponto de partida para
Oliver Twist e As grandes esperanças. Balzac
primou pela precisão de observação para ser
exato na reprodução de ambientes e captar
a luta pelos símbolos do status de vida,
mais tarde um dos maiores temas para Tom
Wolfe. No Brasil, em tom bem mais sombrio,
Euclides da Cunha publicou o primeiro livro-reportagem,
Os sertões, escrito in loco na
Guerra de Canudos, no interior da Bahia
entre 1896 e 1897. Além de sua importância
histórica, segundo Guimarães Rosa foi
fonte inspiradora de Grande sertão, veredas,
provavelmente o maior romance brasileiro.
No Século XX o Jornalismo Narrativo
encontrou as condições para proliferar:
guerras, crises econômicas e fim da crença
em utopias, para motivar autores; tecnologia
para divulgar matérias e romances, e grandes
autores, para criar obras incontornáveis.
Ernest Hemingway, John dos Passos, John
Steinbeck, George Orwell, cada um produziu
obras de ficção que se transformaram
em substância da realidade ocidental. Em
1946, Hiroshima, de John Hersey, ocupa
uma edição inteira da revista New Yorker,
conquista o público e transforma-se em
ícone do Jornalismo Literário a ponto de ser
considerada a reportagem mais importante
publicada nos Estados Unidos no Século XX.
Um grande número de jovens narradores se
veem estimulados a produzir nesse estilo, e
em questão de uma década os frutos dessa
safra começam a ser colhidos.
O primeiro romance de não ficção que se
tem notícia, Operación masacre, foi publicado
na Argentina em 1957 por Rodolfo Walsh,
a respeito de uma chacina policial. Mas o
exemplo histórico de jornalismo narrativo
em forma de romance veio somente em
1965 com o lançamento de A sangue frio,
de Truman Capote (1924-1984). No Brasil,
poucos meses mais tarde a editora Abril
lançou a revista Realidade, com José Hamilton
Ribeiro à sua frente. Autor de 15 livros e
ativo mesmo hoje, com mais de 80 anos,
conseguiu manter a revista por 10 anos,
com suas reportagens de narrativas longas
e completas para época. Tratava de temas
polêmicos e ainda atuais com profundidade
e precisão. Em 1967, por exemplo, um
Euclides da Cunha: jornalismo literário brasileiro.
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