para que você fosse ministro dos Esportes. Por que você recusou? Pelé no cargo
foi uma sugestão sua ou uma ideia de FHC?
Na verdade, Fernando Henrique não me convidou para ser ministro, ele me
convidou para ser secretário de Esportes – não havia Ministério do Esporte. Eu
disse a ele que não, que eu ia morrer jornalista e que não tinha nem condição
financeira de ser secretário ou ministro, porque eu tinha uma família grande,
quatro filhos, e tinha que continuar ganhando o que eu ganhava e como secretário
de Esportes do governo eu não ganharia. Ele ponderou que havia maneiras de
melhorar o salário com aquelas coisas que são comuns, nada ilícitas, de você
ter jeton por participar de conselhos sei lá do quê. Eu disse que não era minha
praia, que eu contribuía mais nos espaços que eu tinha, e ainda tenho.
Ele ficou surpreso, e disse: “Mas Juca, você está há anos lutando de faca na mão.
Eu estou te oferecendo uma bazuca e você não vai aceitar?” Eu disse: “Não,
professor (assim o entrevistado costumava se dirigir ao ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, como ele conta em seu livro), porque essa gente (os cartolas)
vai passar por cima de mim. Na hora em que quiserem falar com o senhor, eles
vão passar por cima de mim como passaram por cima do Zico no tempo do
(presidente Fernando) Collor. Se passaram por cima do Zico, imagine por cima
de mim! O João Havelange não vai pedir audiência para mim, vai pedir para
o senhor. E o senhor vai conceder. Eu vou acabar lhe causando muito mais
problemas do que soluções”.
Então ele perguntou: “Mas, então, quem?” E eu disse: “Tem uma figura no Brasil,
dessa área, por cima da qual eles
não passariam: Pelé”. O presidente:
“Mas ele aceita?”. E eu: “Não sei. Ele já
recusou algumas vezes, mas quem sabe? Temos
um governo eleito num momento de esperança,
o Plano Real dando certo...”. Ele não conhecia o
Pelé, mas eu conhecia, e fiz a intermediação.
Você acha que Pelé foi um bom ministro?
Ele deu uma contribuição inestimável com a Lei
Pelé, que depois foi arruinada na regulamentação,
foi descaracterizada. Mas andamos para frente a
partir da Lei Pelé. O problema, como você sabe,
é que no Brasil há leis que não pegam, e a Lei
Pelé ainda está longe de pegar integralmente.
A revista Placar marcou mais de uma geração de
apaixonados por futebol, e foi por você dirigida
nos tempos áureos. Mas ela começou a “morrer”
como semanal antes do boom da internet. Por
quê?
Revistas esportivas, você conta nos dedos de
uma mão as que foram bem sucedidas, no
REVISTA DA CAASP 13
ENTREVISTA | JUCA KFOURI
QUANDO OS
PROCESSOS
QUE SOFRO
DE CARTOLAS
CHEGARAM A
100, EU PAREI DE
CONTÁ-LOS.