REVISTA DA CAASP 17
clandestino (risos).
Eu militei contra a ditadura, eu era
jornalista, trabalhava com futebol, a
minha participação política pouco tinha
a ver com o meu trabalho. Mas para
mim era muito claro, como diretor da
maior revista de futebol do Brasil (Placar),
que era mais ou menos como se eu
fosse destacado para cobrir a Guerra,
e claramente eu teria que ter um lado –
o lado dos Aliados ou do Eixo. Era isso:
havia uma ditadura instalada no Brasil, e
eu tinha que combater a ditadura, ficar no
lado certo.
Quando o Tancredo (Neves) se elege e
o (José) Sarney vira presidente do país,
começa o processo de redemocratização
do Brasil, eu passo a achar que não é
papel de um jornalista militar em um
partido. Não que eu vá deixar de ter lado,
mas a carteirinha de um partido...
O seu perfil, na minha opinião, jamais se
encaixaria no de diretor de uma revista
como Playboy. Como e por que você
ocupou esse cargo?
Pois é. Hoje, eu não aceitaria, diante de todas as lutas por direitos iguais entre homens e
mulheres. Playboy sempre foi uma revista machista, que explorava a beleza da mulher.
O que aconteceu ali? Morre o fundador da Playboy no Brasil, seu grande editor, Mário
Escobar de Andrade, que era meu grande amigo e cujo sonho, sempre manifestado, era
que trabalhássemos juntos. Ele morre quando Placar já tinha deixado de ser semanal, já
era mensal. O Roberto Civita e o vice-presidente editorial da Abril, Thomaz Souto Correa,
resolvem realizar o sonho do Mário com o Mário morto e me chamam para assumir a revista.
Dou uma sorte e um azar concomitantes: o Collor congela a poupança nacional, a revista
deixa de ter dinheiro para grandes cachês das mulheres de capa e exige da gente a mais
extrema criatividade. Começamos a fazer fotos com “As trigêmeas gaúchas”, “A namorada
do PC Farias” etc, e a investir em jornalismo. Então, a revista, que era uma revista com nível
editorial acima de qualquer crítica, passa a investir mais em jornalismo.
No período em que eu dirigi a Playboy, na redação tínhamos Humberto Werneck, Eugênio
Bucci e Nirlando Beirão, só para falar de três. Entre os colaboradores, para os quais
pagávamos frilas que não se pagavam iguais na imprensa brasileira, algo como 10 mil reais
por matéria nos valores de hoje, tínhamos Ruy Castro, Ricardo Boechat, Audálio Dantas,
Fernando Moraes, Alberto Dines.
ENTREVISTA | JUCA KFOURI