Há três anos sem beber,
recuperando-se do vício adquirido
depois de uma crise conjugal, Reggie
assume as rédeas da defesa de
Mark (a mãe do menino desaparece
do filme). É neste momento que a
história, até então um amontoado
de lugares-comuns, revela seus
diferenciais, destacando-se o
embate apimentado entre Reggie
e o procurador Roy Foltrigg,
interpretado pelo ótimo Tommy Lee
Jones.
Em vários momentos arredio às
orientações da Reggie, Mark solta
esta pérola: “Odeio advogados. Todos
que conheço enganaram a mim e a minha
mãe”. Pressionado pelos procuradores,
numa reunião para a qual foi cooptado
sem a companhia de Reggie, o menino
indaga: “Não preciso de um advogado
aqui?”. O procurador Foltrigg retruca: “Para
quê?”. E Mark devolve: “Para proteger meus
direitos”. Questionamento que, feito em
1994, não perdeu a validade em 2017.
As falas de Mark talvez guardem
tentativas subliminares de Schumacher
de atacar americanos preconceituosos.
“Arrumei um advogado e, mesmo sendo
mulher, é muito bom”, diz o pequeno
machista numa conversa telefônica.
A troca de farpas e o confronto de
estratégias entre advogada e procurador
dão charme ao filme, ainda mais porque
encenadas por Sarandon e Jones. Ao
mini-herói cabe... o heroísmo precoce
hollywoodiano, levado ao extremo quando,
REVISTA DA CAASP 65
no tribunal, diante do juiz (um negro
espirituoso e autoritário), de procuradores
e de investigadores do FBI, evoca a Quinta
Emenda e justifica-se, seguro e absoluto:
“Não posso dizer onde está o corpo porque
tenho medo do que possa acontecer
comigo e com a minha família”.
O desfecho do filme encaminha-se com
perseguições bem editadas e um clima
de suspense eficiente. Joel Schumacher
sabe filmar, apesar de não ser um artista.
Baseado em livro homônimo de John
Grisham, “O cliente” é bom entretenimento.
(PHA) |
CINEMA
Schumacher: direção OK, fora os clichês.
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