Indisciplina e agressividade parecem ser a regra.
48 REVISTA DA CAASP
Aos 52 anos, Laura (nome fictício)
entristece-se ao contar o que o exercício
de 29 anos de magistério lhe causou.
“Disritmia, desânimo, anedonia (perda da
capacidade de sentir prazer), avolia (perda
de interesse e vontade), isolamento social,
prejuízo cognitivo e de memória”, lê em
voz alta. Trata-se do laudo médico que
descreve seus sintomas, característicos de
um quadro de depressão grave.
Professora de Língua Portuguesa, na
Zona Leste de São Paulo, ela foi afastada
pela primeira vez em 2009 e de lá para
cá sua saúde só piorou. Hoje, faz uso de
quatro tipos diferentes de antidepressivos.
As más condições de trabalho, a alta carga
horária, a indisciplina e a agressividade dos
alunos, segundo ela, são o que afeta a saúde
dos professores. Além de dificuldades
no diálogo e falta de colaboração entre
professores e direção escolar.
“Você nem entra na sala de aula e já está
desgastada. Os alunos fazem uma ‘muvuca’
na porta e te impedem de entrar. Eles fazem
o que querem, destratam, maltratam e
desafiam os professores o tempo todo”,
afirma. “Ataque verbal e ameaças, eu já sofri
todos os possíveis e imagináveis. Já sofri
empurrões e até assédio, quando um aluno
passou a mão em minha bunda”, denuncia.
Professora das redes estadual e municipal
de ensino, Laura diz que a agressividade é
um comportamento encontrado tanto nas
salas de aula do ensino médio, que contam
com adolescentes de 15 a 17 anos, quanto
naquelas do ensino fundamental, com
crianças de 6 a 14 anos.
Corrobora o relato da professora uma
pesquisa de 2013 da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico
realizada em 34 países. O estudo colocou o
Brasil no topo do ranking de violência em
escolas. A OCDE promete divulgar no ano
que vem um novo levantamento sobre a
questão.
Outra pesquisa, esta do Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do Estado
de São Paulo (Apeoesp), realizada em
2015, apontou que 44% dos docentes que
atuavam no estado disseram já ter sofrido
algum tipo de agressão, entre as quais
as verbais (84%) verbal, em episódios de
bullying (60%), em atos de vandalismo (53%)
e em agressão física direta (52%). “Uma vez,
um aluno se masturbou em sala de aula e
assediou as meninas. O regimento escolar
não prevê esse tipo de conduta, então
eu chamei a polícia. Mas, no fim, nada
aconteceu com o aluno. A direção impediu
os policias de conversarem comigo e de
recolherem o garoto”, relembra, indignada.
Por fim, a professora denuncia a
precária infraestrutura escolar, que não
fornece insumos necessários à realização
de tarefas simples, que dirá aquelas mais
complexas.
Em 2013, a professora Laura foi
readaptada. Isto é, deixou as salas de aula
e foi recolocada para trabalhar em funções
na área administrativa da escola. Desde
agosto, contudo, ela esta em casa, mais
uma vez em licença médica.
SAÚDE
O Dia