há um quarto, local em que todos
dormiam, em duas beliches.
Quando a polícia chegou,
encontrou os beliches com cortinas
improvisadas, em nome de uma
suposta privacidade. O quarto
era bem pequeno. Ao lado, em
outro quarto, também pequeno,
estavam as máquinas de costura
e o material para confeccionar as
mochilas. Sobrava pouco espaço
para os trabalhadores. No fim
do corredor, um banheiro, em
condições precárias, era usado por
todos.
Juan e Virgínia chegaram a São
Paulo atraídos por um agente
de Cusco, no Peru, que lhes
ofereceu duas passagens a serem
pagas conforme recebessem o
salário, proporcional ao número
de mochilas que fabricassem —
alguns centavos por unidade. No
Brasil, desceram no Aeroporto de
Guarulhos e foram orientados a
pegar um ônibus até o Terminal
Rodoviário do Tietê. Ali já havia
duas pessoas à espera deles.
Foram levados num carro para o
apartamento no bairro do Bom
Retiro e dali saíram poucas vezes.
A rotina era desumana, mas por
que os peruanos não abandonavam
o local? Segundo o padre Paolo
Parise, primeiro porque não tinham
dinheiro para comprar passagem
de volta ao Peru. Depois, porque
REVISTA DA CAASP 37
são muito simples, com poucos
anos de escolaridade e, como
viviam em situação de ilegalidade
aqui — sem visto de trabalho —
tinham medo de serem presos e
deportados.
Ainda assim, Juan e a mulher
pensaram em sair. Mas, quando
conversavam com o patrão sobre
isso, eram desestimulados: “É
melhor você ficar aqui. O que
vai fazer lá fora?” Em nenhum
momento, o patrão abria a porta.
Por isso, decidiram fugir quando o
patrão se ausentou.
Na indústria da costura,
flagrantes iguais a estes são
frequentes — há inquéritos sobre
marcas famosas que contratam
serviços desses exploradores —,
mas o trabalho escravo está longe
de ser exclusividade do setor. Há
alguns meses, chamou a atenção
o caso de três mulheres que foram
trazidas das Filipinas para trabalhar
como empregadas domésticas em
residências de famílias ricas de São
Paulo.
Elas continuam no Brasil, mas
já não trabalham para as mesmas
famílias. O caso motivou a abertura
de um processo no Ministério
do Trabalho, conforme lembra o
padre Paolo Parise. Foi ele quem
denunciou as famílias, depois que
tomou conhecimento de que uma
das mulheres filipinas estava sendo
ESPECIAL