74 REVISTA DA CAASP
curtas, descrições poéticas especialmente
da paisagem da Patagônia, e do desafio - e
vitória - à “proibição” de usar-se adjetivos
e advérbios. É tudo feito na medida exata,
com a palavra exata, para obter um efeito
concreto. É necessário conhecer as regras
para poder transgredi-las com arte: o uso
competente de seis ou sete adjetivos em
uma só frase é fruto de trabalho minucioso.
Martín Kohan escreve para ser lido, como
qualquer escritor, mas não para ser lido
por qualquer leitor. Exige a imersão, leva o
leitor ao fundo de suas águas pela mão de
seus narradores persuasivos. Exige que o
leitor tenha estômago para aquilo que não
será dito, mas será ouvido. Quanto maior
a familiaridade com a grande literatura,
maior será a aproximação, a sensação de
que se está em casa, tanto pelos temas
universais, como pelas obsessões de que
todos somos culpados. Mas tudo pode ser,
em mundos melhores do que aquele em
que apenas vivemos.
“A vida em geral não costuma poupar-nos
misérias, não é necessário somar-se mais
uma. Escrever é minha felicidade, ou uma das
minhas melhores felicidades. A vida cotidiana
de um escritor pode ser eventualmente
mais anódina do que o comum das vidas
cotidianas. Um sujeito solitário, calado,
sentado, alheio, digitando ou anotando o que
quer. Os mundos que escreve, no entanto,
as vidas que escreve, podem ser, em muitos
casos, melhores do que todos os mundos,
melhores do que todas as vidas.”|
*Vivian Schlesinger é escritora e
tradutora.
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