36 REVISTA DA CAASP
quase nada em São Paulo, já que
raramente podiam sair do local
onde moravam e trabalhavam.
Andaram a esmo pelas ruas da
cidade, dormiram debaixo de
marquises durante uma semana,
até que tomaram coragem e foram
a uma delegacia de polícia. Uma
equipe foi até o apartamento e
encontrou outros dois peruanos.
Não houve dúvida: era trabalho
escravo.
O dono do apartamento, Ivan
Cáceres, foi preso em flagrante por
exploração do trabalho escravo e
os quatro peruanos foram levados
a um prédio na rua do Glicério,
perto do centro da cidade, onde
funciona a Missão Paz, que acolhe
imigrantes de todo o mundo,
muitos deles em situação parecida
com a dos peruanos. “Eles estavam
muito abalados, cansados e com
fome, diz o padre Paolo Parise, que
é italiano e está no Brasil desde
2010, primeiro como voluntário e
agora como dirigente da Missão
Paz.
Em meados de novembro, Juan,
Virgínia e os dois conterrâneos
deixaram o Brasil. Estavam
muito emocionados, e choraram
ao abraçar o padre Parise e as
voluntárias da Missão Paz.
Num prédio atrás da Igreja, que
parece um colégio interno, funciona
a Casa do Imigrante. Foi o único
local em que eles encontraram
acolhida no Brasil, calor humano,
amor, como Virgínia disse ao
partir. Fora da Casa do Imigrante,
onde permaneceram diante duas
semanas, até que acertaram a
documentação e partiram, a rotina
deles foi de muito sofrimento.
“Tinha muito pouca comida, a
condição era trabalhar, trabalhar
e trabalhar. Quem não aceitasse
podia ir embora”, conta Juan. O
trabalho começava às 3 da manhã
e ia até às 10 da noite. Ficavam os
quatro no apartamento, sempre
sob vigilância. O trabalho deles
era confeccionar mochilas para
estudantes, todas com desenhos
infantis. As mochilas ficavam
estocadas na sala. O apartamento
tem um corredor pequeno, onde
Missão Paz
A peruana Virgínia: fuga e acolhimento na
Missão Paz.
ESPECIAL