Líder na exploração de trabalhadores
por meios análogos à escravidão, o setor
agropecuário não está sozinho: o trabalho
escravo persiste também em centros
urbanos, onde reinam nesse quesito as
áreas têxtil e de construção civil.
Segundo Antônio Carlos de Mello
Rosa, São Paulo exemplifica a exploração
de trabalhadores no setor têxtil, com
suas confecções estruturadas dentro
de residências. “Transformam casas
em ambientes de trabalho, já que pela
Constituição todo lar é inalienável. Nesses
locais, montam-se verdadeiros bunkers
de produção de roupas, normalmente
submetendo imigrantes que nem sabem
que podem se legalizar, muitas vezes com
passaporte vencido, dormindo em colchões
REVISTA DA CAASP 31 ESPECIAL
ao lado das máquinas de costura, com
alimentação precária e jornadas realmente
exaustivas”, descreve o membro da OIT.
Na construção civil a situação é
igualmente desumana. Pessoas são
levadas de lugares extremamente pobres,
como o Maranhão, estado de menor índice
de desenvolvimento humano do país, para
centros urbanos sem qualquer proteção.
Ignorantes de seus direitos, acabam
submetidos a condições degradantes,
dormindo na própria obra, ao lado de
materiais de construção, e alimentando-se
precariamente.
“No Aeroporto de Guarulhos houve
um problema muito sério. Trabalhadores
vieram de Pernambuco, do Ceará, do
Maranhão. Foram aliciados para trabalhar
nas obras de ampliação. Apesar de
terem recebido proposta de trabalho e
de chegarem a São Paulo pagando as
próprias passagens, não foram admitidos
no emprego e ficaram vivendo em situação
aviltante, num processo de favelização”,
recorda Tiago Muniz Cavalcanti, procurador
do Trabalho e coordenador nacional da
Conaete.
De acordo com o Cadastro de
Empregadores do Ministério do Trabalho,
os exploradores de trabalho escravo
no Brasil distribuem-se por setor na
seguinte proporção: agricultura – 31,3%,
criação de animais – 25,2%, construção
– 9,2%, madeireiro – 8,4%, carvão – 6,9%,
mineração – 4,6%, outros – 14,4% (neste
item enquadram-se joias, lazer, pesca,
restaurantes, comércio, energia elétrica e
vestuário).
A última versão da Lista Suja do trabalho
escravo foi publicada pelo Ministério do
Trabalho em 27 de outubro. A divulgação
oficial aconteceu depois de o programa
Fantástico, da Rede Globo, antecipá-la. A
Cicuito Mato Grosso
Mello Rosa, da OIT: “As pessoas escravizadas
não têm consciência da sua condição”.