38 REVISTA DA CAASP
submetida a trabalho escravo. Ela
tinha jornada excessiva — 16 horas
por dia —, sem receber hora extra,
e comida racionada.
Essa mulher, que tem 35 anos,
contou que, uma vez, com fome,
pediu um ovo à patroa, e o alimento
lhe foi negado. Para não morrer de
fome, cozinhou a carne que era
servida para o cachorro.
A Missão Paz tomou
conhecimento do caso através de
um voluntário, que ouviu a história
em uma organização comunitária
da Mooca. Com seu relato, levado
ao Ministério do Trabalho, auditores
fiscais puxaram o fio de um novelo
que foi parar num esquema de
agenciamento internacional de
trabalho. Segundo a investigação,
uma empresa chamada Global
Talent recruta mulheres nas
Filipinas para trabalhar longe
de casa. É uma prática antiga,
estimulada pelo governo filipino
nos anos 90, quando havia uma
crise muito grande no país.
Mulheres eram convidadas a
trabalhar como domésticas na
Europa, em países árabes e também
na América do Sul. A Global Talent
desde então publica anúncios nas
Filipinas, com mensagens que
prometem o Eldorado longe de
casa.
Nos países recrutadores, a
agência também publica anúncios
destacando as qualidades
das mulheres filipinas. “Os
trabalhadores filipinos são
considerados em todo o mundo a
melhor mão de obra especializada
em serviços domésticos — diz a
mensagem —, com personalidade
alegre, são sempre leais e confiáveis
para cuidados com sua casa e sua
família”.
O que não é escrito, mas
fica subentendido no texto é
a personalidade submissa dos
trabalhadores filipinos. Com
a vantagem extraordinária de
que eles, em geral, falam inglês.
Corretores da Global costumam
persuadir famílias ricas a contratar
mulheres que dominam o idioma
ESPECIAL
Missão Paz
Mulher filipina, vítima de uma rede internacional.