exagerado. E é um trabalho gostoso - claro,
tem dia que a gente está cansada, porque
mãe também não é robô”.
Durante os nove meses da gestação de
Júlia, o corpo de Aline transformou-se por
completo. A advogada passou a apresentar
distúrbios como hipertensão e diabetes
gestacional. Entre as recomendações
para reduzir as possíveis complicações
e promover o bem-estar dela e do bebê,
estava o afastamento do trabalho na reta
final da gravidez, dois meses antes da data
do parto, que ocorreria em 31 de outubro
de 2016.
O necessário freio profissional, contudo,
aprofundou a dificuldade financeira
pela qual a família já passava. Rodrigo,
o marido de Aline, fora demitido meses
antes do escritório de contabilidade em
que trabalhava havia anos. “O fato de eu
ter ficado parado prejudicou o orçamento”,
reconhece Rodrigo.
A família cortou gastos, mantendo
aqueles que consideram essenciais –
saúde, educação dos filhos e moradia.
“A casa é alugada. O plano de saúde e a
escola a gente tem que pagar se quiser
ter e oferecer aos nossos filhos o mínimo
de dignidade e qualidade de vida, porque,
infelizmente, o setor público está largado”,
diz.
Quando a situação chegou ao limite,
Aline recorreu à CAASP, por sugestão de
uma amiga. “Às vezes as pessoas podem
pensar que a anuidade paga à OAB não
serve para nada, mas quando a gente
precisa é nela que a gente pode se apoiar”,
comenta, referindo-se aos 20% da anuidade
que é transferida à Caixa de Assistência
pela secional paulista da Ordem.
O pedido de auxílio-maternidade foi
deferido após rígido processo de análise da
situação financeira da família, em fevereiro
REVISTA DA CAASP 61
deste ano. Como é regra da CAASP, para
concessão de ajuda pecuniária, Aline foi
entrevistada por uma assistente social,
responsável por emitir o respectivo
laudo social, posteriormente anexado ao
processo e analisado por uma Câmara de
Benefícios, conduzida por um corpo de
relatores - todos advogados -, que realiza
essa tarefa voluntariamente.
Aline Moraes de Oliveira é advogada
desde 2013, quando passou no Exame de
Ordem. “Foi uma luta”, recorda. Em 2002,
quando estava no terceiro ano do curso de
Direito, engravidou de sua primeira filha,
Lívia. Só retornou os estudos anos depois,
formando-se em 2010 pela Universidade
Bandeirante de São Paulo (Uniban).
Começou na advocacia atuando em
escritórios de colegas. Atualmente, ela
mantém com uma colega dos tempos da
faculdade um escritório próprio, localizado
na Vila Guilherme. “Alguns escritórios têm
políticas onde o único trabalho é ficar a
frente do computador fazendo petições. E
eu queria mais, queria exercer de verdade
a profissão”, explica.
A advogada tem expectativa de em
breve voltar à sua rotina assídua de
trabalho e estudo – ela deseja cursar pós-graduação
em Direito Civil. Conjuminar
as tarefas de advogada, estudante, mãe
e esposa será difícil, mas não impossível,
acredita. “Com esses meses parados, para
recuperar o tempo terei de me esforçar”,
observa. Por isso, Aline já matriculou a
recém-nascida Júlia em um berçário perto
de seu escritório. Em sua sala, no escritório,
montou uma estrutura de apoio, com um
berço, para quando a filha estiver ali. Assim,
ela anseia retornar ao ritmo normal. “Tem
pouco tempo que eu advogo e ainda não
consegui viver da advocacia, mas é algo
que eu quero, e estou lutando para isso”,
finaliza.|
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