da radiação. Aí, é o fim mesmo. E pior: não será um fim rápido.
O que existe de moderno, em termos militares, para os conflitos corpo a corpo entre tropas,
apesar destes serem cada vez mais raros?
Isso praticamente acabou. Você tem ações isoladas. Aquela coisa das grandes batalhas, do
campo de batalha, trincheiras, não existe mais. A tropa hoje é necessária para ocupar uma área
arrasada pela cobertura aérea. Essa tropa vai fazendo aquele trabalho depois, rua a rua.
Com tudo que falamos sobre armas de alta tecnologia, a vitória na guerra ainda é quando
um sujeito vai onde está outro sujeito e ocupa o lugar dele. Agora, há muitos, muitos, muitos
recursos que multiplicam a capacidade de combate desse pessoal. Há um dado interessante: por
ano, o treinamento de um combatente americano pode custar 1 milhão de dólares, envolvendo
equipamento e treinamento propriamente dito, porque tudo é muito tecnológico. O tecido da
farda é térmico, adaptável à temperatura local, o tipo de calçado varia conforme o território...
As tropas que morreram congeladas nas fronteiras soviéticas durante a Segunda Guerra hoje
estariam preservadas?
Sim, nada que se pareça com aquilo aconteceria hoje. Na Primeira Guerra o exército britânico
ia para o campo de batalha de gravata e polaina (risos).
Hoje, variam os tipos de ração que os soldados comem, o peso das armas que carregam. Se
você não for portador de idiotia patológica, você atira e sua arma vai funcionar. O soldado leva
um notebook, um pouco maior que um palm top, mas com enorme capacidade, inclusive para
fazer links com satélites. Ele têm também um pequeno drone de reconhecimento portátil, que
levam na mochila.
Quantos anos você tem de jornalismo? Por que se fixou nessa área?
Bem, de jornalismo, todos (risos). Eu comecei numa época em que todo mundo começava muito
cedo. Eu sou de Campinas, moro lá até hoje. Eu comecei adolescente, nos anos 60, num jornal
chamado Correio Popular. Eu fui dirigido para essa área depois de algumas matérias que fiz. Eu
nunca fui um colecionador de soldadinhos, aviõezinhos etc. A coisa mais próxima de uma arma
que tenho é um cortador de unhas.
Como estou nessa área há muito tempo, as fontes mudam, mas eu não. Eu vou contextualizando
informações, é uma catequese diária. O que é que eu sou? Eu não sou um especialista em armas,
eu não sou especialista em defesa. Eu sou jornalista. Fui diretor de redação, editor executivo,
diretor de sucursal, coordenador de várias editorias, mas o que eu sou mesmo é repórter. Eu
não brigo com isso. Me dá um enorme prazer sair daqui e ir atrás de uma informação.
Você nunca sentiu vontade de cobrir uma guerra?
Eu até estive em alguns lugares, mas é uma coisa curiosa. Você chega nos lugares e não tem
guerra. Eu estive no Iraque no auge da guerra com o Irã, e os combates eram distantes, ou
não aconteciam. Eu também estive na América Central. Havia a situação de conflito, o clima
tenso. A coisa mais próxima de uma situação de combate que vivi foi em El Salvador: havia
uma orientação para nós não usarmos ônibus e nem carros, pois eles viravam alvos. Eu e o
fotógrafo estávamos indo de uma cidade para outra quando ouvimos um ruído de disparo ao
longe. O motorista imediatamente parou no acostamento e fez todo mundo descer - isso foi
tudo. |
20 REVISTA DA CAASP
ROBERTO GODOY | ENTREVISTA