as agências de pesquisa da Força Aérea brasileira
desenvolvam um projeto próprio para o futuro.
O sistema de defesa brasileiro é condizente com
nossas pretensões como nação?
Não. O Brasil não tem inimigos, até que venha a
tê-los. Hoje, você tem uma tensão na Venezuela
– não é conosco, é interno. Mas o Brasil não
pode permitir, por exemplo, caso a tensão na
Venezuela chegue ao limite máximo, evoluindo
para uma guerra civil, o Brasil não pode permitir
que o seu território seja usado por qualquer dos
lados. Uma ação aérea pode ter que passar sobre
o espaço aéreo brasileiro, e isso não é admissível.
A gente tem também que controlar a entrada
de refugiados pela fronteira – essas são nossas
preocupações.
No longo prazo, em termos estratégicos, quais
seriam nossas preocupações? Por exemplo, em
relação ao pré-sal. O pré-sal não é só o campo de
Tupi, é muito mais. Já se sabe que ao longo do
litoral brasileiro, de Santa Catarina até uma linha
projetada no Amapá, existem outros bolsões
do mesmo tipo, não só de petróleo e gás, mas
também de uma coisa muito estratégica chamada
“núcleos polimetálicos”, que são metais estratégicos, uma parte em águas territoriais, a maioria
não, mas o Brasil usa aquela coisa de áreas de interesse econômico: a ONU concede o direito
de uso e o país assume a responsabilidade pelo controle da segurança naval na área.
Para que isso seja acatado, todo mundo teria que estar pactuado. As grandes potências não
assinam esse tratado do mar – respeitam, mas não são signatárias. Elas se reservam o direito,
ou a capacidade, de em caso de necessidade chegar ao lado do pré-sal e baixar sua sonda.
Então, nós precisamos ter uma capacidade de dissuasão para que esse tipo de aventura não
vire uma aventura militar.
Não é que vamos enfrentar os Estados Unidos ou a China e vencer – não é isso. É que vai ficar
tão caro, tão complicado para essas potências uma ação como a que descrevi, que a solução
negociada será melhor. Os Estados Unidos já têm uma posição sobre o pré-sal, que é uma
declaração, depois seguida de um documento formal, feita quando da visita do então presidente
Obama ao Brasil. Ele disse: “os Estados Unidos querem ser o principal cliente internacional do
pré-sal”. Ou seja: vocês vendem para nós, ok? Agora, é preciso ter uma capacidade dissuasória
para que não sejamos fáceis de ser dominados.
Quando o Brasil terá essa capacidade dissuasória?
O Brasil está montando essa capacidade e, mesmo com a crise, a coisa está andando. Claro,
não há nada iminente no cenário, trata-se de algo que você olha pensando em 50 anos. Quem
é que imaginaria, 50 anos atrás, determinadas situações geopolíticas atuais?
REVISTA DA CAASP 13
ENTREVISTA | ROBERTO GODOY
O QUE
COMPROMETEU
A NEGOCIAÇÃO
PARA A COMPRA
DOS CAÇAS
AMERICANOS FOI
A ESPIONAGEM
CONTRA A
PRESIDENTE
DILMA ROUSSEFF
FEITA PELA NSA