64 REVISTA DA CAASP
“O sol é para todos”, filme de 1962,
geralmente é apresentado como a história
de um advogado que, na década de
1930, numa pequena cidade sulina dos
EUA, defende no tribunal um negro que
fora acusado de estuprar uma mulher
branca, acrescentando-se que tal narrativa
corresponde à ótica de uma criança. Além
de ser um clássico do cinema de todos os
gêneros, em 2008 o Instituto Americano
de Cinema colocou-o em primeiro lugar na
lista dos 10 melhores filmes de tribunal.
O advogado Atticus Finch, vivido por
Gregory Peck, também foi eleito um dos
melhores personagens do cinema no
Século XX. O filme rendeu ao ator o único
Oscar de sua carreira. A atriz Mary Badham,
então uma criança, foi também indicada
ao Oscar por sua interpretação de Stout, a
filha de Atticus, narradora da história.
Embora centrais, são apenas parte
do enredo os episódios relacionados
ao julgamento e às hostilidades que o
advogado e seus filhos passam a sofrer
porque Atticus aceitou defender o
acusado. Na realidade, o filme narra as
memórias de infância de uma menina órfã
de mãe, ao meio das quais ela retrata seu
pai com veneração e conta a história desse
julgamento.
Gregory Peck dizia ser Atticus seu
personagem favorito e que não precisara
representar para interpretá-lo, pois seus
sentimentos eram iguais ao dele. Um
americano sensível e de bem não poderia
dizer outra coisa no início dos anos
1960. A identificação do público com o
personagem deve muito à idealização do
pai pela menina-narradora. Atticus é um
pai carinhoso e exemplar, e um homem
ético de intocada honestidade, tolerância e
CINEMA
Um advogado idealista diante de um júri racista.