Seu individualismo
não é egoísta e sim fruto
de uma consciência
virtuosa. Para ele, a
riqueza de um homem
poderia ser medida
pela quantidade de
coisas de que não
precisa para viver, o
que neste sentido o
aproxima dos filósofos
da escola cínica da
Antiguidade grega, em
especial de Diógenes.
Ao final de seu ensaio,
Thoreau apresentará
perguntas até hoje sem respostas.
“O progresso de uma monarquia absoluta
para uma monarquia constitucional e desta
para uma democracia é um progresso
no sentido do verdadeiro respeito pelo
indivíduo. Será que a democracia tal como
a conhecemos é o último aperfeiçoamento
possível em termos de constituir governos?
Não será possível dar um passo a mais no
sentido de reconhecer e organizar os direitos
do homem?”
Henry David Thoreau encerrará o
seu pequeno e complexo texto, embora
aparentemente simples, enunciando sua
utopia:
“Agrada-me imaginar um Estado que,
afinal, possa permitir-se ser justo com todos
os homens e tratar o indivíduo com respeito,
como um seu semelhante; que consiga até
mesmo não achar incompatível com sua
própria paz o fato de uns poucos viverem à
parte dele, sem intrometer-se com ele, sem
serem abarcados por ele, e que cumpram
todos os seus deveres como homens e
cidadãos. Um Estado que produzisse este
tipo de fruto, e que o deixasse cair assim que
estivesse maduro, prepararia o caminho para
um Estado ainda mais perfeito e glorioso, que
REVISTA DA CAASP 73 LITERATURA
Martin Luther King e Mahatma Gandhi ,
influênciados por Thoreau.
também imaginei, mas que ainda não avistei
em parte alguma.”
Suponho que esse outro Estado “ainda
mais perfeito e glorioso” seria, para ele,
um lugar onde todos os cidadãos fossem
virtuosos.|
*Luiz Barros é escritor e jornalista