NIilton Divino: “ de repente, eu estava na Seleção”.
42 REVISTA DA CAASP
Quem vê o baiano Nilton Divino,
41 anos, em quadra pelo Magic
Hands, time de basquete sobre rodas
da Associação de Desportos para
Deficientes, não imagina como foi
difícil para ele se reabilitar do acidente
sofrido há mais de 20 anos que o
deixou paraplégico.
Em 1994, dois meses após
desembarcar em São Paulo, Nilton, aos
18 anos, fraturou a medula ao cair do
galho de um abacateiro, a 12 metros
de altura. Depois do acidente, ele
ficou dois anos totalmente recluso, em
casa. “Eu passava os dias a lamentar
a minha vida”, recorda-se. A tristeza
era tamanha que por duas vezes ele
tentou suicídio. Ao ver sua aflição, um
amigo lhe apresentou uma alternativa:
o basquete em cadeira de rodas, a
primeira modalidade paraolímpica
praticada no Brasil, desde 1958,
graça a Robson Sampaio de Almeida,
alagoano radicado na Cidade do Rio
de Janeiro, e ao paulistano Sérgio
Seraphin Del Grande, que após se tratarem
em hospitais americanos e presenciarem
pessoas em cadeira de rodas praticando
esporte, trouxeram a ideia para o Brasil.
“Nunca tinha jogado basquete antes,
não tinha interesse pelo esporte. Mas,
depois que vi o jogo, resolvi me dar
uma oportunidade”, conta Nilton. A
dedicação que passou a empregar ao
basquete lhe rendeu frutos. “Comecei a
treinar, participar de campeonatos e, de
repente, estava na Seleção”, relata com
um sorriso no rosto, orgulhoso de ter
participado das campanhas do Brasil nas
Paraolimpíadas de Atenas (2004) e Pequim
(2008), e dos Parapan do Rio (2007) e de
Guadalajara (2011). “Eu agradeço todos
os dias pelo esporte ter entrado na minha
vida. Me reabilitou por completo, física e
mentalmente. Foi o que me trouxe de volta
à vida “, diz.
Hoje, Nilton dedica sua vida ao
basquete em cadeira de rodas. A rotina
dele e dos demais jogadores é intensa.
No último dia 17 de maio, a Revista da
CAASP acompanhou o treino do Magic
Hands, time quatro vezes campeão
brasileiro na sua modalidade, duas vezes
campeão paulista e que frequentemente
fornece atletas para a Seleção Brasileira
de Basquetebol em Cadeira de Rodas. O
treino ocorreu no Centro Paraolímpico
Brasileiro, em São Paulo, principal legado
dos Jogos Paraolímpicos do Rio para o
esporte adaptado. Foram cerca de três
horas de um treino que começou com um
SAÚDE
Ricardo Bastos