
74 REVISTA DA CAASP
política deixa de ser missão para se transformar em profissão.
E o conceito de liberdade confunde-se com a baderna gerada pela liberalidade
extrema, tocada pela improvisação, pela irresponsabilidade, pela invasão dos espaços
privados e até pelo denuncismo exacerbado da mídia. O país tornou-se um gigantesco
território de delatores, que se abrigam nas teias da Operação Lava Jato para atenuar suas
penas. Pouco tempo, víamos devastação e depredação dos patrimônios público e privado
por hordas convocadas às ruas por movimentos radicais.
Quando o escopo libertário foi esculpido, no bojo da Revolução Francesa, vale
lembrar, carregava consigo o eixo da promoção dos valores do homem, da defesa dos
direitos individuais e sociais, da dignidade e da Cidadania. O inimigo que se combatia era
o Estado opressor, o absolutismo monárquico e a escravização que fazia do ser humano.
Erigiu-se o altar das liberdades que, ao longo da história, tem sido conspurcado por outras
formas de vilania e torpeza. Na modernidade, a opressão econômica, a subordinação dos
valores e princípios espirituais ao prazer das coisas materiais, a miséria que maltrata
parcelas significativas da sociedade, a desigualdade de classes, o descompromisso de
governos e representantes do povo para com os destinos da coletividade, entre outros
elementos, contribuem para corroer o sentido da liberdade e da dignidade do homem.
A banalização da violência; o assassinato de pessoas de todas as idades, em qualquer
região do país; o descumprimento das leis; a falta de parâmetros reguladores que definam
responsabilidades nas instâncias públicas; a angústia do desemprego; a frustração das
classes médias em constatar rebaixamento em seu nível de vida; e, de outro lado, o
enriquecimento escandaloso de grupos que se incrustam na administração pública – nos
níveis federal, estadual e municipal; a política incapaz de promover mudanças profundas
no tecido institucional, a corrupção desenfreada e a impunidade –felizmente investigada
por nossos órgãos de controle - arrematam o sentimento de que a vida do país mais se
parece com um Estado de anarquia.
Mais que um lamento, Simon Bolívar fez uma profecia. Tem acertado mais que
Nostradamus.|
*Gaudêncio Torquato, membro do Conselho Editorial da Revista da CAASP, é
jornalista, professor titular da USP e consultor político.
OPINIÃO