
de São Francisco, em 1956, tendo atuado
principalmente na área de direitos autorais,
sobre a qual recorda: “Roubava-se de todo
mundo, não se cumpria nada”.
Há 50 anos Albanese é funcionário
da Cetesb (Companhia de Tecnologia e
Saneamento Ambiental do Estado de São
Paulo), o que não o impediu ao longo desse
tempo de produzir ou apresentar programas
nas rádios Nacional, Record, Bandeirantes
e outras, e nas TVs Cultura, Tupi, Excelsior,
Record e Bandeirantes, paralelamente à
intensa carreira musical.
Mário Albanese é a música personificada.
Inevitável perguntar-lhe sobre suas
preferências atuais. “Gosto muito da
sinceridade e da improvisação do Hermeto
Paschoal”, afirma, ressalvando que, afora
a obra do genial compositor e multi-instrumentista
nordestino, só vê “adaptações
e mistura de ritmos” em vez de criação. E
não deixa de ironizar o repórter: “Vocês
costumam entrevistar intérpretes. Músico é
outra coisa – músico é uma pessoa criativa”.
O jequibau viajou o mundo sem que
Albanese viajasse junto, mas o percurso do
ritmo por ele criado pode ser atestado entre
molduras nas paredes de seu apartamento:
foram três Discos de Ouro no Festival
Internacional de Caracas, em
1972, entre muitas outras
condecorações nacionais e
internacionais.
Artista puro, antes de
tudo um criador, Mário
Albanese não dá explicações
formais para as origens da
sua música. Considera-a
brasileira pelo simples
fato de que seu criador é
brasileiro. De outra parte,
exalta o jazz por seu caráter
multicultural: “No Pós-
Guerra, a miscigenação
estendeu-se para a música, o
REVISTA DA CAASP 53 PERFIL
que favoreceu o improviso. Jazz é sobretudo
improviso”.
Pianista, considerava o violão um
instrumento menos nobre. Até conhecer
Aníbal Augusto Sardinha, ou Garoto, o maior
violonista popular para nove em cada 10
estudiosos da música brasileira. Garoto
influenciou, entre outros, Baden Powell,
Rafael Rabello, Dino 7 Cordas e João Gilberto.
Morreu 1955, aos 40 anos, e Albanese não
se esquece dele. “Quando vi Garoto tocar
Holiday for strings no violão, eu não sabia o
que falar nem o que fazer. Ficamos muito
amigos, e isso foi como tivesse ouvido dele:
‘prossiga, pois você tem jeito’”.
Aos 86 anos, cinco filhos, dois casamentos,
palmeirense, Mário Albanese brinca quando
diz não saber como pôde dar-se bem na
música, pois não bebe, não fuma e pratica
esportes. É fonte inesgotável de casos
vividos no ambiente musical, casos de uma
época em que a música brasileira efervescia
em talento e originalidade, tempo em que
música popular não era sinônimo de baixa
qualidade. “Não é por que existe a música
clássica que não podermos ter música
popular sofisticada, de qualidade”, sentencia.
Em tempo: Mário Albanese não assiste a
The Voice.|(PHA)
Mário Albanese: antes de tudo, um criador.