
Sinceramente, não. Quando escreve, a gente tem
motivações tão profundas e subjetivas, sempre movidos
também pela imaginação, pelo inconsciente, que você
não pensa “ah, se eu escrever um diálogo para ser
adaptado...”, você não pode pensar nisso.
No caso do audiovisual, no roteiro, a linguagem é muito
diferente da de um romance. A linguagem do roteiro
já é pensada para a tela, para o diálogo, para a cena, e
você não pode aprofundar psicologicamente como faz
na literatura. É difícil você adaptar seis páginas de um
delírio ou de um pensamento de um personagem para
o cinema.
Você concebe algum modelo de política cultural para o
Brasil?
Na minha opinião, o melhor ministro da Cultura que
tivemos foi o Gilberto Gil. Eu acho que o Ministério da
Cultura, na gestão do Gil, foi um dos mais atuantes. Ele
contemplou tudo, praticamente. O Iphan, restauração
do patrimônio histórico, os pontos de cultura, estes uma
iniciativa democrática de levar cultura a comunidades
pobres. Você imagina o que são milhares e milhares de jovens pobres que gostariam de
ser atores, de ser músicos, escritores, terem uma oportunidade. Foi uma política muito
democrática e consistente. Então, quando eu penso numa política para a cultura, eu penso
na atuação do ministro Gilberto Gil.
Agora, nós escritores dependemos tão pouco... eu não dependo de nada do governo. Meus
livros são lidos, felizmente. Já o cinema precisa, por exemplo. Todo país razoavelmente
civilizado tem uma política cultural. A França, por exemplo, não só tem uma política de
investimento em cultura – cinema, teatro, séries de TV – como 30% das salas de cinema são
obrigadas a passar filmes franceses.
“NA MINISSÉRIE DA GLOBO, O LUIZ FERNANDO CARVALHO
(DIRETOR) FOI UM ARTESÃO, E A MARIA CAMARGO LEVOU
OITO ANOS PARA ESCREVER O ROTEIRO. ELA LEU 26 VEZES
O ROMANCE.”
REVISTA DA CAASP 13 ENTREVISTA | MILTON HATOUM