
dos desaparecidos, focando-se na divulgação
de fotos dessas pessoas. “Eu me afastei das
Mães da Sé e comecei um novo projeto,
as Mães em Luta, com a missão de fazer
prevenção, cobrar providências do Poder
Público e dar acompanhamento psicológico e
jurídico às famílias”, conta.
Vera Lúcia Ranu hoje é dona de uma
empresa de material odontológico
CADASTRO
INÚTIL
REVISTA DA CAASP 29
descartável, o que lhe assegura uma vida
com algum conforto material. O conforto
espiritual não virá até que Renata reapareça,
o que a esta altura é improvável. “O que eu
digo às pessoas com familiares desaparecidos
é que não percam a esperança de ao menos
conseguir uma explicação. No meu caso, acho
muito difícil conseguir alguma coisa, mas não
é impossível”, resigna-se.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança
Pública 2018, produzido pelo Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, foram registrados em
2017 um total de 82.684 desaparecimentos
no Brasil, 25.200 dos quais em São Paulo.
Especialistas atestam a credibilidade do
FBSP, mas o número apurado talvez não
seja preciso. Nada a fazer de pronto, pois o
Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes
Desaparecidos, criado por lei e lançado
em fevereiro de 2010, é peça decorativa
e o site governamental que o abrigava,
www.desaparecidos.gov.br, saiu do ar.
“Nem fazia sentido aquilo ficar no ar
constando 300 e poucos desaparecidos.
Aquilo era um atestado de descaso, de
omissão, por isso eles tiraram do ar”, afirma
a promotora Eliana Vendramini, do Ministério
Público de São Paulo, coordenadora do
Sinalid (Sistema Nacional de Localização e
Identificação de Desaparecidos) no Estado. O
Sinalid é regido nacionalmente pelo Conselho
Nacional do Ministério Público.
“Quando integralizarmos os dados via
Sinalid, vamos ter certeza pelo menos quanto
ao número de registros
de desaparecimentos no
país. O próprio Ministério
Público vai levantar esse
número, que pode não
bater exatamente com
os números do Fórum
Brasileiro de Segurança
Pública. O que faremos
será pegar os Boletins de Ocorrência junto
às Secretarias de Segurança Pública em
linguagem digital, integralizar nosso banco de
dados e, aí sim, começar a fazer pesquisa não
só por número, mas sobre quem, onde, como
e por quê desapareceu”, explica.
Para Ariel de Castro Alves, advogado,
coordenador da Comissão da Criança e
do Adolescente do Conselho Estadual de
Direitos Humanos (Condepe), “o universo de
desaparecidos por ano deve ser muito maior
do que o computado pelo FBSP”, já que não há
números credíveis “pela falta de um sistema
organizado na própria área de segurança
pública”.
De todo modo, não são os números
frios que dão a dimensão dramática de
um desaparecimento. A falta de preparo
da polícia para lidar com esses casos - o
descaso é um sintoma - é sentida logo no
instante inicial, concordam a promotora e o
advogado, e constitui a chave para o fracasso
da investigação.
“Os primeiros momentos são fundamentais
ESPECIAL