
Gemperli, denunciando a influência de
blogueiras.
42 REVISTA DA CAASP
O número de operações de cunho
meramente estético, não restaurador,
mais que dobrou no Brasil de 2009 a 2016,
passando de 459,1 mil procedimentos para
839,2 mil, segundo o Censo da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) divulgado
em 2017 (veja gráfico). Entre os gêneros,
as mulheres são as que mais recorrem às
transformações e fomentam esse mercado. O
implante de silicone nos seios encabeça a lista
de intervenções estéticas mais pedidas nos
consultórios. O Brasil é também o país onde
mais se realizam cirurgias estéticas íntimas,
seja para estreitar o canal vaginal, diminuir
os grandes lábios ou retirar gordura do púbis.
Treze mil labioplastias foram realizadas em
2016.
Alguns fatores contribuem para intensificar
o desejo dos brasileiros de melhorar sua
aparência e dão força à indústria da beleza.
Destacam-se o número de cirurgiões plásticos
atuantes no Brasil (são 5.900 profissionais
segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica) e a popularização do acesso a
procedimentos antes restritos às classes mais
abastadas. Nada é tão forte, contudo, quanto
o culto ao corpo, sempre presente na cultura
brasileira, mas amplificado pelo uso das
redes sociais, como Facebook e Instagram,
na análise do titular do Departamento de
Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina
da USP, Rolf Gemperli, chefe do Serviço de
Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas.
“Com a projeção das blogueiras e
das influenciadoras digitais nas redes
sociais, a busca por mudanças estéticas
foi exageradamente estimulada nos
últimos anos. Muitas dessas mulheres são
verdadeiras inspirações para suas seguidoras,
que recorreram a cirurgias plásticas para se
aproximarem desse perfil”, observa Gemperli,
destacando que quem deseja se parecer com
uma celebridade do mundo digital não raro
se sente frustrado, pois deixa de atentar para
o fato de que as imagens divulgadas na mídia
nem sempre correspondem à realidade,
superdimensionando as verdadeiras
possibilidades da cirurgia plástica.
A necessidade de exibir um corpo perfeito e
jovem acabou também por criar um mercado
lucrativo que por vezes banaliza a prática.
Hoje, as operações estéticas se tornaram
comuns, facilitadas por clinicas que parcelam
os custos das intervenções cirúrgicas. Quando
não conseguem pagar por procedimentos
aqui, os brasileiros cruzam a fronteira.
Recente reportagem da BBC Brasil
mostrou que é cada vez mais comum homens
e mulheres irem à Bolívia e à Venezuela para
submeterem-se a cirurgias estéticas. O câmbio
parece ser o principal atrativo. Além disso, em
meio à profunda crise vivida na Venezuela, os
cirurgiões plásticos de lá têm intensificado
a divulgação de seus trabalhos no Exterior,
diz a reportagem. Os procedimentos mais
procurados são lipoaspiração, lipoescultura,
rinoplastia, abdominoplastia e implante de
silicone nos seios.
Embora a reportagem da BBC traga
o depoimento de homens e mulheres
que passaram por experiências positivas,
nem sempre o sonho da cirurgia plástica
termina bem. Nos últimos cinco anos,
SAÚDE
Ricardo Bastos