
22 REVISTA DA CAASP
que falhas podem ocorrer. A mulher precisa
ter o apoio do Estado para ser atendida com
seguranca, dignidade e dentro da lei.“
Em entrevista pouco antes de sua morte,
em 2017, a advogada Simone Veil disse que
não gostava de autointitular-se feminista.
No entanto, sua voz ainda inspira milhões
de mulheres neste debate. “O aborto é uma
decisão dolorosa, sempre revestida de
drama individual. Nada, no entanto, justifica
manter uma lei repressiva que coloca em
risco milhões de vidas e a integridade
reprodutiva das mulheres. A interrupção
voluntária da gravidez, sob controle médico,
revela-se a melhor maneira de preservar a
integridade física e psicológica das mulheres,
dimensão incontornável de toda sociedade
democrática”, disse Veil de forma serena em
plenário do Parlamento ao apresentar seu
projeto de lei, em 1975.
Sobrevivente do Holocausto, nos últimos
anos de vida revelou temor pela volta
do fascismo à Europa, medo justificado
pelo aumento de grupos ultradireitistas e
xenófobos frente à crise migratória e a (nāo)
acolhida aos refugiados africanos e sírios.
Nasceu em Nice, aos 13 de julho de 1927,
como Simone Jacob. A família, composta
pelo pai, a mãe e três filhos, era de origem
judaica nāo-praticante. Presos pela Gestapo,
em 1944, foram levados para diferentes
campos de extermínio. Aos 16 anos, Veil
foi levada para Auschwitz com a māe e a
irmã. De todos, apenas Simone e a irmā
sobreviveram.
Simone Veil ocupou altos cargos públicos na
política, sempre em posição centrista e, por
este motivo, causou admiraçāo quando agiu
de forma mais ousada. Em 1974, como
ministra da Saúde do governo do primeiro-ministro
Jacques Chirac e do presidente
Valéry Giscard d’Estaing, elaborou a projeto
de lei que descriminalizava o aborto. A lei
passou a vigorar em janeiro de 1975, sendo
chamada de Lei Veil.
Por sua visāo global dos problemas de
integração na Europa, Veil foi a primeira
mulher eleita presidente do Parlamento
Europeu, cargo que ocupou de 1979 à 1982.
Entre 1993 e 1995 foi ministra de Assuntos
Sociais e de Cidades no governo de Edouard
Balladur. Em 2005, Participou ativamente da
campanha pelo voto a favor da Constituição
Europeia. Ocupou assento no Conselho
Constitucional de 1998 a 2007, antes de
retirar-se progressivamente da vida pública.
Após publicar sua autobiografia, intitulada
“Uma Vida”, foi eleita para a Academia
Francesa em 2008. Em junho de 2018, seus
restos mortais, juntamente com os de seu
marido, Antoine Veil, passaram a integrar
o Panteāo. Das 76 personalidades ilustres
imortalizadas no mausoléu, apenas cinco
são mulheres. A homenagem foi realizada
INTERNACIONAL
“NADA JUSTIFICA
MANTER UMA LEI
REPRESSIVA”
Web
Simone Veil: “O aborto é uma decisão dolorosa,
mas...”