
O Estado de São Paulo conta com
uma – só uma – delegacia especializada
em desaparecimentos, instalada na Rua
Brigadeiro Tobias, na Capital, junto ao
DHPP. “Ali trabalham dois funcionários que
a gente elogia até por ofício, só que eles não
são máquinas. Tem lá um investigador que
veio da área de homicídios, que tem faro
investigativo, que sabe encontrar pessoas
desaparecidas a partir de seus dados físicos,
mas ele faz isso manualmente. Isso é uma
vergonha!”, indigna-se a promotora Eliana
Vendramini. “Precisamos pelo menos de
um sistema de buscas por cruzamento de
palavras. Outro dia, eles não conseguiram
achar o B.O. referente ao caso de uma criança
de um ano e dois meses que estava em pé
na frente de uma igreja. E o B.O. existia!”,
recorda.
O MP-SP realizou uma
pesquisa a partir de Boletins
de Ocorrência na cidade de
São Paulo em que se constatou
como causa preponderante de
desaparecimentos “problemas
familiares” – algo um tanto
quanto genérico. Segundo
Vendramini, as conversas
com os pais de desaparecidos
revelam, por traz, uma profunda
carência social. “Na região Sul,
por exemplo, a razão inicial
advém de um problema maior
REVISTA DA CAASP 31 ESPECIAL
da própria região: ausência de educação (não
tem onde deixar o filho), ausência de saúde
(o filho tem problema mental), ausência de
lazer (o filho fica pela rua e se envolve com
traficantes) e ausência de segurança pública
(há um preconceito profundo, e a segurança
é quase um ataque)”, discorre a promotora,
ressalvando que, na capital paulista, a zona
Leste é o “hot point” dos desaparecimentos,
até pela sua alta densidade demográfica.
Pelas estatísticas da Secretaria Estadual
de Segurança Pública, desaparecem em
média 21 mil pessoas no Estado de São
Paulo por ano, das quais 8 mil são crianças
e adolescentes. “Não tem como um caso em
Presidente Prudente ser investigado por uma
delegacia que fica na Capital”, constata Ariel
Estadão
Mães em Luta
POR TRÁS,
A QUESTÃO SOCIAL
Castro Alves: “não tem como um desaparecimento em
Presidente Prudente ser investigado por uma delegacia
que fica na capital”.