
A Revista da CAASP sai na
mesma semana em que o Brasil
realiza eleições para presidente,
governadores, senadores e
deputados. Nosso desejo é, acima de
tudo, que os princípios democráticos
que bem ou mal têm conduzido
o Brasil desde a promulgação
da Constituição de 1988 restem
consagrados.
A reportagem de capa desta
edição trata de um drama humano.
Ter um filho, um irmão, um pai ou
qualquer ente querido desaparecido
não causa menos que uma sensação
de terror permanente, uma
ansiedade insuportável e insuperável
até o desfecho, que muitas vezes
não acontece. Ouvimos Ministério
Público, Conselho Estadual de Direitos
Humanos, OAB-SP e Secretaria de
Segurança Pública para esmiuçar
o tema e saber como o Estado lida
com os desaparecimentos. Também
obtivemos o relato de alguém que
vive tamanha angústia há mais de
duas décadas.
Nunca foi tão importante escutar
as boas cabeças, aqui entendidas
como mentes aculturadas que
abraçam o humanismo como valor
fundamental. O escritor Milton
Hatoum é uma delas. Ele acaba
de receber o Prêmio Juca Pato de
Intelectual do Ano e de lançar mais
um livro, primeiro de uma trilogia.
Entrevistado nas páginas a seguir,
fala sobre política, ditadura, família,
REVISTA DA CAASP 3 EDITORIAL
literatura e de sua vida de escritor
nômade.
“Às vezes você se refugia
num dogma ou numa religião ou
num partido para escamotear
verdades. Eu acho que não é esse
o papel do intelectual”, disse-nos o
escritor, entre muitas outras frases
relevadoras de seu engajamento
sem proselitismo.
Assim como Hatoum, o
jornalista e professor Gaudêncio
Torquato não vê a democracia
brasileira em bom momento. Na
seção Opinião, ele chama a atenção
para uma realidade perigosa:
“As eleições, como a deste ano,
constituem uma batalha acirrada,
onde não faltam impropérios,
denúncias contra adversários, calúnia
e difamação, fake news produzidas
por mentirosos profissionais,
cooptação pelo empreguismo e
pela distribuição de benesses em
regiões incultas. A política, como
exercício democrático da defesa de
um ideário social, como missão para
salvaguarda dos interesses coletivos,
está cada vez mais assemelhada ao
empreendimento negocial, voltado
para o enriquecimento de indivíduos
e grupos”.
Fortes emoções à vista.