“Ele era muito dependente, então era eu quem tratava de medicá-lo corretamente, alimentá-lo,
levava aos atendimentos médicos”, diz. Na época, Hideo mal conseguia ficar em pé e teve
de reaprender a andar em sessões de fisioterapia. Hoje, locomove-se com auxílio de uma
bengala.
Além de toda a serventia, Kimie conta que tinha de lidar ainda com o gênio forte de Hideo,
que no passado motivara o divórcio do casal. O fardo logo sobrecarregou a saúde da mulher,
que já requeria cautela. Além de hipertensa, Kimie tem apenas um rim. O estresse de cuidar
do ex-marido provocou quedas drásticas em sua concentração de sódio no sangue, levando
a ser internada mais de uma vez, já que a falta de sódio no sangue provoca disfunções
cerebrais, tais como lentidão e confusão, que se desenvolvem rapidamente para sintomas
mais graves e até a morte.
A família optou então por acomodar Hideo em uma casa de repouso, local onde o advogado
reside há cinco anos. Kimie conta que ele é visitado regularmente pelos filhos e por ela, que
reside em imóvel próprio próximo à casa de repouso e segue responsável por Hideo. “A
deficiência visual e os problemas de saúde lhe tiraram muito a autonomia, então sou eu
quem ainda vai ao banco receber sua aposentadoria, pagar suas contas, quem vai à farmácia
comprar seus remédios e tudo mais”, explica. “Prometi aos meus filhos não desamparar o
pai deles”, afirma. Os filhos, ela lembra, são solidários e preocupados, mas têm suas próprias
famílias para sustentar.
Em 2016, Kimie e Hideo decidiram casar-se novamente e, embora estejam unidos em
matrimônio, vivem separados. Na condição de esposa, Kimie encontra mais facilidade para
responder por trâmites legais, como recebimento de aposentadoria, em nome de Hideo. Foi
ela quem formalizou pedido de benefício pecuniário à CAASP em nome do advogado.
Como é regra da Caixa de Assistência, o casal foi visitado e entrevistado por uma assistente
social, responsável por emitir o respectivo laudo social, posteriormente anexado ao processo
e analisado por uma Câmara de Benefícios, conduzida por um corpo de relatores - todos
advogados - que realiza essa tarefa voluntariamente. O pedido foi atendido após entrevistas
com assistente social e confirmação de sua incapacidade laborativa e precariedade econômica.
Hoje, aos 78 anos, Hideo recebe da CAASP auxílio mensal em dinheiro e auxílio-medicamento,
benefícios que se somam à sua aposentadoria. Os recursos cobrem os custos
da casa de repouso que, embora simples, é limpa e organizada, e permite ao advogado receber
atendimento de profissionais especializados, como nutricionista, médico e enfermeiro.
O apoio da Caixa também possibilita a compra de seu coquetel de medicamentos de uso
contínuo e o seu transporte para consultas médicas, que são realizadas nos hospitais do SUS
(Sistema Único de Saúde), as quais são suas horas de passeio.
Kimie, por sua vez, tem 69 anos, leva uma vida simples e tem suas despesas supridas com
a sua própria aposentadoria.|(Karol Pinheiro)
REVISTA DA CAASP 43
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