
30 REVISTA DA CAASP
As projeções mais animadoras para o clima
na Terra indicam que a temperatura global
deve aumentar dois graus Celsius ainda neste
século. As mais aterrorizantes afirmam que o
aquecimento chegará a 4,9 graus Celsius se
nada for feito. Ambas, portanto, ficam aquém
da meta fixada pelo Acordo de Paris: aumento
de, no máximo, 1,5 grau Celsius.
Muitos se perguntam: o que acontecerá
com os humanos quando a temperatura na
Terra subir demais? Não será preciso esperar:
1 grau foi quanto a temperatura média do
planeta aumentou desde o período pré-industrial.
Os efeitos disso já são sentidos.
Nos últimos 10 anos, quase triplicou o
número de pesquisas científicas que procuram
responder a essa pergunta. O patologista e
professor da Faculdade de Medicina da USP
Paulo Saldiva é um desses pesquisadores
que buscam saber qual será o impacto das
mudanças climáticas na saúde. À Revista da
CAASP ele apresentou o resultado de um de
seus recentes estudos, feito em 1.802 cidades
do Brasil, sobre o impacto das ilhas de calor
na saúde da população.
Nas ilhas de calor, nome dado ao fenômeno
climático que ocorre principalmente nas
cidades com elevado grau de urbanização,
a temperatura média costuma ser mais alta
do que nas regiões rurais próximas por uma
combinação massiva da liberação de carbono
na atmosfera e pouca quantidade de área
verde.
O relatório apontou, por exemplo, que
nessas áreas as ondas de calor foram
responsáveis pelo aumento de 12%
na internação de pacientes
cardiovasculares. “As cidades
hoje são laboratórios naturais do
impacto e da rapidez com que
as mudanças climáticas estão
afetando nossa qualidade de vida”,
afirma Saldiva, que é também
diretor do Instituto de Estudos
Avançados da USP.
Saldiva explica que, quando
exposto a temperaturas elevadas,
o corpo humano sente dificuldade
para se adaptar, e então precisa
promover algumas alterações para
se defender. “O corpo humano
tem um limite fisiológico para a
temperatura que pode suportar.
Nos vulneráveis, como os idosos, a
exposição a uma temperatura alta
eleva as chances de morte ou no
mínimo uma internação”, alerta.
Outro relatório, este de alcance
mundial, publicado pela revista
científica The Lancet no fim do
SAÚDE
Saldiva: “o corpo humano tem um limite que pode suportar”.
IEA