
decisões pode ameaçar direitos.
Os algoritmos são construídos em casos passados e por causa disso tendem a ser
generalizantes e a não levar em conta os contextos e os casos específicos. Então, por isso,
eles tendem a gerar, basicamente, preconceito. Por exemplo, eu preencho um formulário
de crédito. O algoritmo vai olhar para um histórico de pessoas, vai extrair padrões e emitir
uma opinião. “Essa pessoa vai ser boa pagadora ou vai ser má pagadora?”. Só que, como
ele está fazendo generalizações, ele pode ser racista, pode ter preconceito com pessoas de
determinada profissão, pode cometer todos os tipos de generalizações que a nossa sociedade
considera perigosas e preconceituosas, porque é de sua própria natureza.
É por esse motivo que hoje se teme que as decisões sejam totalmente automatizadas para
algoritmos. O que é um pouco diferente dos algoritmos instruírem uma decisão humana,
ou seja, ele gera um índice e um ser humano, com base nesse índice e levando em conta
características e situações específicas, toma uma decisão que, eventualmente, vai contra o
REVISTA DA CAASP 11
que o algoritmo recomenda.
Como o senhor encara o advento dos
abaixo-assinados online, o chamado
“ativismo de sofá”? Qual a relevância deles
para pressionar políticos, por exemplo?
Muito pouca ou nenhuma. Faz o político
ver se alguma coisa é popular ou não,
mas não tem nenhuma capacidade de
assustar. A gente viu nos últimos anos
petições gigantescas pedindo impeachment
de ministros do Supremo, com milhões
de assinaturas, e elas não fizeram nem
cócegas.
O que faz diferença nesse ativismo digital
são outras coisas. Ele forma opinião pública,
ele mobiliza - e mobiliza mesmo, ao ponto
de as pessoas irem às ruas protestarem.
Nesse sentido eles são extremamente
poderosos.
A gente acabou de ver uma eleição ser
decidida inteiramente nas mídias digitais.
Pela primeira vez podemos falar com
muita certeza isso, porque o Bolsonaro
não tinha verba de campanha, não tinha
palanque, não tinha tempo no rádio e tevê
e nem campanha de rua ele fez, por conta
do atentado. Então, podemos falar com
muita convicção de que foi uma campanha
decidida nas mídias sociais. Elas têm
capacidade de eleger um presidente da
ENTREVISTA | PABLO ORTELLADO