
República.
Esse protagonismo das redes sociais na eleição era esperado?
Não. Surpreendeu todo mundo. Acho que você não vai achar nenhum analista que achasse
que o Bolsonaro tinha chances de ganhar. E por quê? Porque quando você faz previsão - isso
tem a ver com a conversa do algoritmo -, você olha para os padrões passados e projeta para
o futuro. E o que a ciência política dizia? Que os recursos tradicionais da política que fazem
com que um candidato seja eleito eram basicamente três: tempo de rádio e tevê, verba e
palanque nos estados.
Ele Bolsonaro não tinha nenhum dos três e conseguiu ganhar, estabelecendo um novo
padrão, e a partir de agora vamos olhar para as próximas eleições levando em conta outros
elementos, como o domínio das mídias sociais, a capacidade de mobilização da sociedade.
Isso, seguramente, em muito pouco tempo, vai entrar como os recursos que a ciência política
considera necessários para ter um bom desempenho eleitoral. Mas como isso é novo, todo
mundo errou. Até porque não tinha como acertar. Você só consegue prever um fenômeno
quando ele se repete, quando ele é novo, não tem como.
Mas não tivemos certo precedente com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos? Não
era possível fazer uma relação?
Era, mas tinha suas diferenças também. O Trump tinha muito dinheiro e estava no Partido
Republicano. O Bolsonaro estava no PSL (Partido Social Liberal) e não tinha dinheiro. Então,
o Trump teve muita mobilização, mas ao mesmo tempo tinha um grande partido por trás
e muito dinheiro. Foi uma surpresa que um candidato radical chegasse à presidência da
República nos EUA? Foi. Mas, ao mesmo tempo, do ponto de vista do que se pede como
requisito para que um candidato chegue, ele tinha todos os recursos.
Mas Bolsonaro ganhou somente por seu domínio das novas tecnologias ou também por seu
discurso?
Pela combinação. Claro, o conteúdo é sempre importante, não adianta eu ter todos os
recursos e ter um candidato fraco, sem carisma, sem programa, sem apelo. Já tivemos
candidatos excelentes que tinham apelo, carisma e tudo, mas não tinha as outras condições
e chegavam aos seus 10% dos votos. Uma posição que não é lá muito expressiva.
“O PAPEL DOS ALGORITMOS É MUITO MENOR DO QUE SE CRÊ. ELES
TENDEM A GERAR, BASICAMENTE, PRECONCEITO.”
12 REVISTA DA CAASP
PABLO ORTELLADO | ENTREVISTA