
ido longe demais e aí a gente escreveu
um artigo na Folha, num domingo.
Veja: o nosso desmentido mais
importante foi num veículo de
comunicação de massa tradicional.
Por que a gente não pode fazer o
desmentido por meio das mídias
sociais? Porque o que faz com
que uma notícia falsa se difunda
é o engajamento das pessoas nos
discursos polarizados. E por que essa
lista se difundiu tanto? Porque só tinha
veículos de direita. Ela se difundiu na
“NO FACEBOOK, SITES
HIPERPARTIDÁRIOS
RESPONDEM POR MAIS OU
MENOS METADE DO CONSUMO
DE NOTÍCIAS POLÍTICAS.”
esquerda, porque essa suposta lista que a gente não fez só tinha ranqueado veículos de
direita. Então, os sites engajados de esquerda falaram: “olha como o pessoal da direita é
mentiroso”. E a coisa pegou fogo.
Se a gente tivesse dado o trabalho de fazer uma lista dessas, provavelmente a nossa lista
seria mista, com sites de direita e esquerda, e ela nunca ela iria viralizar, porque a direita não
ia fazer porque teria sites de direita, e a esquerda não ia fazer porque teria sites de esquerda.
Em um mundo cada vez mais digital, quem sabe mais sobre a vida dos cidadãos, os governos
ou as corporações privadas?
As corporações, sem sombra de dúvida. Os bancos de dados das cinco grandes - Apple,
Microsoft, Google, Facebook e Amazon - tem muito mais informação nossas do que qualquer
governo, com a possível exceção do governo dos Estados Unidos, que não por acaso é o
governo sob o qual elas têm sede. Elas têm mais informações do que a Stasi (polícia secreta
da antiga Alemanha Oriental), que era famosa por investigar seus cidadãos e ter arquivos de
todos, o que é uma espécie de paradigma totalitário.
E o que é feito com essas informações?
Oficialmente, muito pouco, direciona-se publicidade. Mas teve o escândalo do Snowden
em 2013 (Edward Snowden, ex-analista da NSA que revelou atividades ilícitas de monitoramento
do Serviço Secreto dos EUA por servidores de nove empresas de internet, incluindo Facebook,
Google e Microsoft). A gente não sabe é se essas empresas colaboraram voluntariamente
para o governo ou não, mas houve um compartilhamento para o governo americano e isso
foi usado com finalidades políticas. E o potencial de uso é assustador.
Essas ações ilícitas de vigilância dos serviços de segurança dos Estados Unidos e também
aquelas feitas pela Cambridge Analytica’s resultaram em alguma ação prática contra o uso
indiscriminado de dados dos usuários ou apenas entraram na História?
Em 2012, todo mundo sabia que havia dados demais e proteção jurídica de menos. E se
supunha: se a proteção jurídica não impede usos abusivos, eu tenho usos abusivos! Porque
eu tenho um potencial de uso político e comercial enorme e eu não tenho nada que impeça
esse uso, portanto, eles seguramente são usados.
Qualquer especialista, em 2012, achava que o problema provavelmente era grave. Quando
16 REVISTA DA CAASP
PABLO ORTELLADO | ENTREVISTA